Por Wellington Duarte*
Aparentemente o tal programa “FUTURE-SE” é do desconhecimento da esmagadora maioria da população e quando se reconhece que teve acesso às informações sobre, ela veio truncada, deformada e induzida. Um programa que destrói todo o sistema universitário brasileiro, em pouco tempo, pode parametrizar as formas de organização interna de universidades e institutos federais.
Mesmo dentro da chamada “comunidade acadêmica”, formada por professores, servidores técnico-administrativos e estudantes, há uma preocupante desinformação e, eu diria, alheamento quanto ao que significa para o futuro desses três setores da comunidade a implementação desse programa. Até mesmo entre os professores parece haver um estado de torpor quanto ao que fazer diante desse cenário de destruição, talvez porque toda uma nova geração de docentes, grande parte deles fruto do processo de expansão do ensino superior, já sobejamente demonstrada por indicadores de vários institutos de pesquisa, e que tiveram, até 2016, vasta possibilidade de capacitação, de fazer pesquisas, de produzir ações de extensão e de construir eventos acadêmicos. Esse mundo Acabou e foi fruto, em grande medida, de um conjunto de fatores que desembocou nesse turbilhão em que o país vive.
O “FUTURE-SE” não é um programa preocupado com a “desburocratização” e a “salvação” das universidades, diante de um cenário aterrador de encolhimento orçamentário derivado da criminosa Emenda Constitucional 95, que estabeleceu um CONGELAMENTO, por 20 anos, de gastos prioritários do governo federal. Os imbecis que a defenderam, à época, agora veem o resultado dessa sandice: todos os setores estão estrangulados orçamentariamente. É preciso se livrar de gastos e os da Educação, entraram na mira da furibunda equipe de pilantras que formam a equipe econômica do governo.
Para uma universidade cujo orçamento, até 2017, representava quase 13% do orçamento do Rio Grande do Norte, que tem um universo de mais de 40 mil estudantes (uma cidade de porte médio), mais de cinco mil servidores técnico-administrativos e mais de quatro mil professores, entre ativos e aposentados, o sucateamento que vive desde 2016, já fez encolher sua participação na economia potiguar, com efeitos sinistros, pois jogou na sociedade centenas de desempregados e fez arrefecer o setor de construção civil, na medida em que as obras encolheram significativamente.
A proposta governamental, que já demonstrou claramente ódio às universidades e institutos federais, desenvolvendo uma cruzada macambúzia contra esses dois sistemas, contra os professores e estudantes, numa espécie de vingança dos energúmenos, sempre colocados nas cavernas da ignorância e que agora tem um patrono, o destrambelhado que tem a faixa presidencial, revela-se um despropósito e uma grande mentira.
Nem as universidades estarão mais perto do mercado; nem teremos uma enxurrada de investimentos privados dentro das universidades; nem teremos uma horda de professores empreendedores saltitantes devido à possibilidade de enriquecimento. Tudo é uma piada jocosa. Eventos acadêmicos, projetos pedagógicos, carreira acadêmica e atividades de extensão são simplesmente pulverizadas num cenário do “Future-se” e o Reitor, porteiro das Organizações Sociais (derivação de empresa privada) se limitará a abrir e fechar as universidades.
A reação ao “Future-se”, nesse momento, tem um grande desafio: desfazer o desconhecimento que existe sobre ele e convencer a comunidade acadêmica e a sociedade de que tal programa subverte os princípios das universidades, que é o de ser um campo de saber, livre e plural, e que, em todas as sociedades civilizadas representam um elemento fundamental para o desenvolvimento da nação.
* Professor do Departamento de Economia da UFRN, presidente da CTB-RN e do ADURN-SINDICATO