Por Altamiro Borges*
Na semana passada, uma assembleia de credores aprovou o plano de recuperação judicial do Grupo Abril – que edita, entre outras revistas, a Veja. Homologado pela Justiça, o que deve ocorrer nos próximos dias, ele dará início a mais uma alienação de bens do ex-império midiático. Estão previstos leilões para a venda de três ativos: a revista Exame, especializada em economia e negócios; o histórico prédio da Marginal do Tietê, na capital paulista; e imóveis na região turística de Campos do Jordão, no interior de São Paulo.
Segundo matéria de Nelson de Sá, “a primeira alienação, pelo cronograma do plano, será da Exame, em até quatro meses. A expectativa é de que a unidade seja adquirida pelo Banco BTG Pactual. A ideia do banco é estabelecer, sobretudo com o site e o aplicativo, um negócio semelhante a outros no setor de mídia e finanças, vinculando noticiário a ferramentas de investimento. É o modelo de operações como Infomoney, da XP Investimentos”. Ou seja: a Exame tira o disfarce de neutralidade e passa a defender abertamente os interesses dos abutres financeiros!
Na sequência, serão alienados o prédio da Marginal do Tietê e os imóveis em Campos do Jordão. “As vendas visam cobrir parte da dívida acumulada pelo Grupo Abril, que soma R$ 1,6 bilhão. Desse total, R$ 1,1 bilhão já foram adquiridos com desconto pelo BTG, junto aos três grandes bancos credores – Itaú, Bradesco e Santander. Os ativos à venda foram separados em Unidades Produtivas Isoladas (UPIs), dispositivo previsto em recuperações judiciais no país, compondo um ‘conjunto de bens organizados para fins de alienação’, como descreve o plano”, informa o jornalista especializado em mídia da Folha.
As humilhantes dívidas trabalhistas
Pelo plano aprovado, os funcionários demitidos pelo Grupo Abril desde dezembro de 2017 finalmente irão receber os seus direitos. São cerca de 1.300 trabalhadores que estavam na maior pindaíba, humilhados pelos patrões e sobrevivendo nas piores condições. O plano prevê o pagamento das dívidas trabalhistas na íntegra até o valor de R$ 250 mil. Acima disso, os pagamentos passarão por um deságio escalonado.
Em assembleia conjunta dos sindicatos da categoria – jornalistas, gráficos, administrativos e distribuidores –, os presentes aprovaram o acordo. “Desde o início da recuperação judicial, o sindicato batalhou para receber integralmente o mais rápido possível, e a gente conseguiu agora chegar a esse acordo”, festeja Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. A conferir se o plano será respeitado!
“Veja” e os herdeiros avarentos
Nesse longo período de angústia dos trabalhadores, os três filhotes de Roberto Civita gozaram de todos os prazeres da vida. Nas páginas da revista Veja, eles adoravam bravatear sobre “competência empresarial” e viviam receitando remédios amargos para a economia, além de jogar o país na desestabilização política. Após levar o império à falência, porém, eles abriram processo de recuperação judicial e repassaram a massa falida a “administradores”, em agosto do ano passado. As dívidas com os bancos Itaú, Bradesco e Santander foram renegociadas e, em dezembro, o “empresário” Fábio Carvalho comprou o grupo da famiglia Civita.
Agora, o Grupo Abril aprova mais uma fase da sua recuperação judicial. Talvez os funcionários recebam seus direitos – as dívidas trabalhistas somam R$ 90 milhões. Já os herdeiros do império com certeza seguirão com suas vidas de alto luxo. Jogaram a empresa – e o Brasil – no caos e não sofrerão qualquer percalço. Segundo o ranking da Forbes, a fortuna da famiglia Civita está estimada em US$ 7,8 bilhões – mais de R$ 30 bilhões. Isto explica porque a “Veja” e outras revistas da Abril sempre defenderam os interesses da cloaca burguesa!
*Jornalista, presidente do Centro de Estudos sobre Mídia Alternativa Barão de Itararé