Por Altamiro Borges*
Bajulado pelos abutres financeiros do mundo inteiro, o presidente-ricaço Mauricio Macri conseguiu destruir a Argentina, que virou um caos. Nesta quarta-feira (28), o governo do país vizinho decretou moratória de parte da sua dívida de curto prazo e anunciou que também renegociará os empréstimos de médio e longo prazos, inclusive a parcela de US$ 57 bilhões obtida do Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho de 2018.
Ou seja: o neoliberal Mauricio Macri, com sua política ortodoxa de austericídio fiscal, afundou a economia. O que já era sentido por milhões de argentinos, com a explosão do desemprego, da inflação e da miséria, agora é oficial com a decretação da moratória. Como explicou Hernán Lacunza, ministro da Fazenda do moribundo governo, a renegociação terá início de imediato, mas “inexoravelmente” será concluída pelo presidente que vencer as eleições de outubro. Na prática, a bomba será repassada para o novo governo!
Diante da devastação da economia argentina, muitos “analistas de mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos banqueiros na mídia rentista – e representantes da cloaca burguesa estão se fingindo de mortos no Brasil. Os mais cínicos até juram que já tinham previsto o colapso. Entre os oportunistas vale mencionar o patético João Doria. Em setembro de 2017, já se preparando para trair os otários paulistanos e disputar o governo de São Paulo, o ex-prefake visitou Mauricio Macri na Casa Rosada, em Buenos Aires, e declarou:
“Nossas ideias são absolutamente iguais, sem retoque. Foi um encontro inspirador, Macri é absolutamente inspirador”. Na ocasião, a imprensa até especulou que o novato tucano contrataria o assessor de marketing do ídolo argentino, Jaime Durán Barba. Como realçou na época a revista Fórum, “João Doria ainda disputava internamente com o seu padrinho político, o então governador Geraldo Alckmin, o sonho de se candidatar à presidência e não se cansou de elogiar Macri”. O que será que ele pensa hoje sobre seu incapaz amiguinho?
Outros picaretas que hoje fogem são os fascistinhas do Movimento Brasil Livre (MBL). No final de 2015, eles tuitaram: “Macri assumiu na Argentina há menos de duas semanas e está tomando uma política econômica antagônica à de Dilma. Daqui a um tempo veremos o resultado dessa nova Argentina, e o caminho tomado pelo Brasil”. Já no Facebook, elogiaram a “reforma” da Previdência do neoliberal portenho – que também prometia melhorar a economia, como no Brasil – e decretaram em junho de 2016: “Argentina vive dias mais liberais – e distantes do bolivarianismo kirchnerista – e seu povo reconhece a melhoria”. Depois, quando a crise eclodiu, os “tontos” do MBL – segundo a carinhosa definição de Sergio Moro – deletaram as postagens.
No caso da mídia rentista, os vexames também são hilários. Miriam Leitão, porta-voz econômica da famiglia Marinho, até virou motivo de chacota em função da sua torcida militante por Mauricio Macri. Em um texto que ficou famoso pelo erro crasso, ela escreveu no jornal O Globo em 2017: “A economia da Argentina está em recuperação e pode crescer 3% este ano e 4% no ano que vem. Isso explica em parte a vitória de Mauricio Macri nas eleições do último final de semana. O ajuste promovido pelo governo já traz resultados concretos que começam a ser percebidos pela população”.
Até hoje, Miriam Leitão não fez uma autocrítica mais severa do seu erro de leitura. Em artigo publicado nessa quinta-feira (28), ela segue com sua visão ultraneoliberal e não dá a mão à palmatória. “Macri teve um início promissor, com aumento da confiança e dos indicadores financeiros da Argentina. Mas seu primeiro grande erro foi ter optado pelo gradualismo no ajuste que o país precisa fazer. O tempo foi passando, e o melhor momento de liquidez nos mercados internacionais foi perdido sem que o governo entregasse as reformas que prometera durante campanha”. A ortodoxia dos adoradores do “deus-mercado” parece uma doença!
*Jornalista, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé