O presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a subir o tom contra Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (26), dizendo esperar que “os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura” do cargo.
Em entrevista ao lado do presidente chileno Sebastián Piñera, no âmbito da cúpula do G7, o chefe de Estado francês afirmou que “é triste” ver ministros brasileiros insultarem líderes estrangeiros. “É triste, mas é triste primeiro para ele [Bolsonaro] e para os brasileiros”, afirmou o francês.
No último fim de semana, o titular da Educação, Abraham Weintraub, disse que Macron “é apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês”.
Já Bolsonaro, zombou da mulher do francês, Brigitte Macron, em um comentário machista na internet, referindo-se ao fato dela ser mais velha que o marido.
“Penso que as mulheres brasileiras sentem vergonha ao ler isso, vindo de seu presidente, além das pessoas que esperam que ele represente bem seu país”, afirmou o líder europeu, classificando as palavras do brasileiro como “extremamente desrespeitosas”.
“Como tenho uma grande amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que tenham logo um presidente que se comporte à altura do cargo”, disse Macron.
Ao lado de Macron durante a declaração, o chileno Piñera se manteve em silêncio e não comentou a briga entre Paris e Brasília —ele é considerado um aliado regional de Bolsonaro.
Macron descreveu os últimos lances da crise diplomática com o Brasil como um “grande mal-entendido”.
“Bolsonaro me prometeu, com a mão no peito [na cúpula do G20, em julho, no Japão], fazer tudo pelo reflorestamento e respeitar os engajamentos do Acordo de Paris [sobre a mudança climática] para podermos fechar o pacto comercial [entre União Europeia e Mercosul). Devo dizer que ele não falou a verdade”, acrescentou.
“Dias depois, o presidente demitiu cientistas de seu governo”, lamentou o francês, referindo-se ao afastamento do presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, após a divulgação de estatísticas sobre o desmatamento que desagradaram ao governo.
Macron lembrou ainda a saia justa a que foi submetido o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, em recente passagem pelo Brasil. Na ocasião, Bolsonaro desmarcou uma audiência com o visitante e, no horário marcado para ela, fez uma transmissão ao vivo na internet enquanto tinha o cabelo cortado.
“Ele teve um compromisso urgente no barbeiro quando estava para receber o ministro de Relações Exteriores [da França]”, ironizou Macron.
Curiosamente, na segunda, a resposta do presidente francês à pergunta de um jornalista sobre as rusgas com o governo brasileiro começou com um “sem comentários”.
Mais cedo, em participação num programa televisivo, a ministra da Justiça, Nicole Belloubet, havia qualificado como “baixezas” os insultos de políticos brasileiros a Macron e sua mulher.
Comentaristas na mídia francesa também falaram em “vulgaridades no limite da decência”.
O presidente francês também anunciou nesta segunda-feira (26) que os líderes do G7 vão providenciar, imediatamente, 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões) de ajuda emergencial para combater as queimadas na Amazônia.
Fonte: Folha