Os mercados financeiros regiram com nervosismo aos resultados das eleições primárias realizadas na Argentina domingo (11), que constituem uma prévia do pleito presidencial convocado para outubro e sinalizam uma clara rejeição à política de restauração neoliberal implementada pelo governo Macri.
Os ativos da Argentina derreteram em Wall Street nesta segunda-feira (12), após a derrota do neoliberal Mauricio Macri nas primárias, que soaram como uma pá de cal no projeto de sua reeleição em outubro e uma clara desaprovação à continuidade de suas reformas econômicas, feitas ao gosto das classes dominantes locais, do FMI e dos EUA.
Derrota no 1º turno
Na Bolsa de Nova York, os títulos argentinos caíram cerca de 20%, e as ações das empresas do país mais de 50%, em reação ao resultado das primárias de domingo – obrigatórias para os eleitores e consideradas uma prévia das eleições gerais de 27 de outubro, nas quais o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández teve uma ampla vantagem sobre Macri.
Fernández, companheiro de chapa da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), recebeu 47% dos votos, enquanto Macri conquistou apenas 32%, uma diferença quase insuperável para o governo.
“O mercado agora está assumindo que Macri perderá no primeiro turno”, disse à AFP Jorge Piedrahita, presidente-executivo da Gear Capital Partners, consultoria com sede em Nova York.
“A reação do mercado foi brutal, já que os resultados foram totalmente inesperados”, acrescentou.
Na abertura da Bolsa, os preços dos títulos estavam entre 16 e 24 pontos mais baixos, refletindo uma reavaliação da dívida argentina, de acordo com os especialistas.
Os títulos do país a 100 anos caíram quase 27% em Nova York, a 54,66 centavos por dólar, informou a Bloomberg.
As ações de empresas argentinas em Wall Street (ADRs) registraram vendas sem precedentes. Os mais afetados eram os bancos, diante das preocupações dos investidores com a saúde do sistema bancário local, explicou Piedrahita, que antecipou um possível congelamento de depósitos bancários nos próximos dias, ou semanas.
‘Ruim para os mercados’
O volume das transações mostrava o nervosismo dos mercados – que alguns especialistas descreveram como sinais de “pânico”.
“Alguns ADRs caíram de 20% para mais de 50%. Os títulos caíram muito também”, explicou à AFP Tiago Severo, economista sênior para a América Latina no Goldman Sachs.
Para ele, a sensação geral é que Macri não vai conseguir superar essa distância da chapa opositora Fernández-Kirchner.
“É um resultado bem ruim para os mercados e para muitos investidores que estavam ficando mais otimistas sobre a história argentina”, declarou. O que é ruim para os mercados pode ser bom para o povo argentino, conforme sugere a história. O neoliberalismo aplaudido pelos mercados está condenando o país a um retrocesso econômico e social inaudito.
Oposição com maioria
O banco de investimentos JP Morgan alertou que os resultados de domingo colocam em xeque a continuidade da política de austeridade de Macri e até sugerem que a oposição terá maioria no Congresso em outubro.
“A pressão sobre os mercados financeiros aumentará diante da probabilidade de uma descontinuidade da política”, aponta o relatório.
Macri implementa um rigoroso ajuste fiscal no âmbito de reformas econômicas acordadas no ano passado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em troca de um empréstimo recorde de mais de 56 bilhões de dólares para enfrentar uma corrida cambial em abril de 2018 que fez a inflação disparar e levou à atual crise econômica.
Questionado pela imprensa, o FMI – a quem o neoliberal Macri entregou o comando da economia – não comentou o resultado eleitoral de ontem. A economia argentina, terceira maior da América Latina depois do Brasil e do México, retraiu-se 2,5% em 2018, segundo o FMI. Para este ano, o Fundo prevê uma queda de 1,3% do PIB, que por sinal resulta de sua orientação recessiva.
No primeiro semestre, a inflação foi de 22%, uma das mais altas do mundo, enquanto 32% dos 44 milhões de habitantes foram declarados em situação de pobreza.
Da Redação, com agências