Por Tarcísio Tadeu, para o BR
A classe operária tem seus heróis – e o metalúrgico Lucio Antonio Bellentani, falecido na madrugada desta quarta-feira 19, em São Paulo, aos 75 anos, foi um dos grandes desta estirpe.
Aguerrido militante do Partido Comunista Brasileiro no enfrentamento político clandestino ao regime militar, Lucio foi perseguido, preso e torturado por suas convicções pelos responsáveis pela fábrica da Vokswagen, em São Bernardo do Campo, no início dos anos 1970. Detido e espancado dentro das instalações da empresa, ficou desaparecido até ser libertado, após muitos sofrimentos físicos, pelo aparato de repressão política do regime militar. Nunca pegou em armas. Seu ‘crime’ foi o de distribuir aos seus companheiros o jornal A Voz Operária, do PCB, arregimentar militantes e organizar estratégias para a luta sindical. Exatamente o que se pode fazer com tranquilidade em qualquer democracia do mundo, mas que aqui, naqueles tempos, era prova de subversão com pena, muitas vezes estabelecida, de morte.
“Eu levava os exemplares da Voz dentro da minha marmita, dobrados, para passar aos companheiros”, contou ele. “Era preciso mostrar aos trabalhadores que havia resistência e passar orientação para a luta política e sindical”.
Nascido em 1944 no interior de São Paulo, Lucio tornou-se ferramenteiro após ter sido aprendiz no Senai. Em 1962, teve sua primeira atividade sindical ao participar da greve geral nacional que consagraria o 13° salário como um direito da classe trabalhadora.
Em 1972, já como ferramenteiro da Volks de São Bernardo, foi preso no interior da empresa, onde passou a ser espancado numa longa sessão que terminaria em torturas no DOPS e, posteriormente, no DOI CODI.
Mesmo abalado fisicamente, sua trajetória de lutas prosseguiu e fez de Lucio um pioneiro em muitas causas sindicais e políticas, sempre junto aos trabalhadores. Em cada momento importante da vida nacional encontram-se as digitais deste velho e bom militante militante do PCB marcando sua presença.
Sua vida e as perseguições sofridas naqueles anos de chumbo estão registradas no documentário ‘Cúmplice’, vencedor, no ano passado, de três prêmios em festivais de cinema na Europa.
Atualmente, Lucio presidia o Sindicato Nacional das Aposentados da Confederação dos Sindicatos do Brasil (CSB) e liderava, junto com outros companheiros, a luta por reparação e justiça no caso Volkswagen, em razão da participação institucional na multinacional alemã na perseguição aos trabalhadores em cumplicidade com o regime militar. Essa luta alcançou repercussão mundial, especialmente na Europa e na Alemanha, onde é assunto permanente da mídia.
O inquérito civil em fase final mobilizou no Brasil todos os estamentos do Ministério Público (MPT,MPE,MPT), com a Volks estando muito próxima, neste momento, a ter de pagar indenizações para os operários e suas famílias. Além de orientar prisões, praticar violência física e demitir sumariamente, os responsáveis pela companhia nos anos 1970 incluíam os operários perseguidos em listas negras, de modo a que não mais prosseguissem exercendo suas profissões.
Lúcio deixa um legado e muitas tarefas a serem cumpridas neste difícil momento do País, mas, acima de tudo, fica sua história de vida de perseverança nas lutas das boas causas.
Descanse em paz, companheiro Lucio. Seguiremos lutando fortalecidos pelo seu exemplo;