Em contrapartida aos crescentes sinais de que a economia brasileira caminha novamente para o brejo da recessão, entre eles o recuo do PIB no primeiro trimestre (-0,2%) e das vendas do comércio em abril (-0,6%), o pessimismo avança em todas as áreas. Nesta segunda-feira (17), analistas das instituições financeiras baixaram novamente a expectativa de crescimento da produção para 0,96%.
A nova previsão consta do boletim “Focus”, resultado de um levantamento feito junto a 100 instituições financeiras que registra a 16ª queda consecutiva neste ano. Pela primeira vez o índice ficou abaixo de 1%, refletindo a frustração do mercado com a realidade adversa da economia, em particular com os elevados índices de desemprego, que constituem o indicador mais fiel e dramático da crise.
Governo inepto
Parece notório que a dupla Bolsonaro/Guedes, preocupada em insultar a esquerda e agradar banqueiros e grandes capitalistas estrangeiros, não tem resposta para os graves problemas da economia nacional. A política neoliberal, imposta goela abaixo dos brasileiros, fundada no que os críticos batizaram de austericídio fiscal (ou seja, um rigor fiscal suicida), é a razão principal da crise.
Até mesmo o liberal Rodrigo Maia (DEM/RJ) já se insurgiu contra tal orientação, reconhecendo que não será possível abrir caminho à recuperação econômica sem mexer no regime fiscal imposto pelo golpe de 2016, que congelou as despesas públicas do chamado Orçamento Primário (que exclui o pagamento de juros) por 20 anos, o que fez a taxa de investimentos da economia (Formação Bruta de Capital Fixo, no idioma do IBGE) despencar.
A expectativa de que a confiança de empresários e consumidores iria subir fortemente com a posse de Jair Bolsonaro, o queridinho do mercado financeiro, não se confirmou. As trapalhadas do governo da extrema direita, que transformou o Palácio do Planalto numa espécie de usina de crises (conforme insinuou o presidente da Câmara), também não contribuem para melhorar o clima.
Os fatos sugerem que a solução para a crise pressupõe mudanças radicais na política de restauração neoliberal imposta ao país após o golpe de 2016, radicalizada por Bolsonaro e Paulo Guedes, que aprofundou a recessão, precarizou ainda mais o mercado de trabalho e condena dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras ao desemprego, à informalidade e ao desalento.
Umberto Martins