Moro finge de morto

Por Jaime Sautchuk*

 

É certo que boa parte da opinião pública já descobriu que Sérgio Moro, o ex-juiz herói da Operação Lava Jato, que parecia estar fora da política, é o político que agora virou ministro. E que a grande mídia nacional escondia suas ações ilegais, que incluem a invasão de privacidade de Lula e Dilma Rousseff, em 2016.

Ele usa a velha tática de acusar alguém de criminoso pra se esquivar de culpas – agora, os bandidos são invasores dos celulares dele e dos procuradores apanhados com ele em ações ilegais. Focam em como as informações foram obtidas, ignorando as revelações que elas trazem.

Pra todos os efeitos, as graves denúncias de manipulação de processos judiciais são dirigidas a algum ET que passou por aí, nada têm a ver com o atual ministro Sérgio Moro. 

É bem verdade, também, que precisou um veículo de comunicação e jornalistas estrangeiros entrarem na roda pra que fatos bastante conhecidos viessem à tona e ganhassem grande dimensão. Depois, a grande mídia tupiniquim se dividiu, tentando se proteger.

Estadão (O Estado de São Paulo), tradicional porta-voz da Lava Jato, publicou editorial pedindo a Moro que entregue o cargo de ministro, pra liberar possíveis investigações. Já O Globo, jornal do grupo Globo, manteve seu apoio a Moro e aos desmandos da Lava Jato, ignorando a nova dimensão que os fatos ganharam com as denúncias publicadas na noite do último domingo pelo The Intercept.

O fato é que essas revelações mexeram com o país, assombrado com os fatos nelas contidos. O Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Poder Judiciário, convocou sessões extraordinárias, realizadas na manhã de terça-feira, dia 11. Avançou no debate de habeas corpus a presos de segunda instância, onde se enquadra Lula, preso há mais de ano.

O próprio Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro, porém, que só aceitaria liberdade parcial caso não tivesse que abrir mão de sua luta pra provar sua inocência. Uma luta que avançou bastante com as novas revelações sobre os métodos de Moro quando juiz.

No Congresso, um movimento suprapartidário passou a reivindicar a demissão de Moro e a punição dele e dos procuradores paranaenses acusados de conluios que levaram Lula à prisão, impedido de tomar parte das eleições de 2018, que teria vencido logo no primeiro turno, segundo pesquisas feitas então. 

Na terça-feira de manhã houve, também, um encontro de Moro com o presidente da República, na sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Mas, após o encontro, nenhum dos dois revelou o conteúdo da conversa, como se o silêncio não ecoasse as mais variadas suposições. E nada sobre deixar o cargo de ministro, que o ex-juiz insiste em continuar ocupando.

O que se pode concluir disso tudo, é que o ministro Sérgio Moro, ainda que se dizendo inocente, caiu na vala comum do atual governo federal, com a mesma cotação junto ao público brasileiro, que é bastante baixa. A quem sonhava virar ministro do Supremo na primeira vaga que surgisse, parece que as chances minguaram.

 

* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião da entidade.

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