Por José Carlos de Assis*
É inacreditável que, em plena depressão econômica, o governo Paulo Guedes tenha como meta da reforma da Previdência uma economia de 1 trilhão de reais. Se isso acontecesse, seriam retirados do consumo esse 1 trilhão, precipitando o país numa depressão ainda maior do que aquela em que já estamos. É que esse dinheiro sairia do consumo e iria diretamente para a especulação financeira a fim de irrigar os fundos de capitalização a serem criados. Um crime contra o povo, contra os trabalhadores, contra a economia nacional.
Proposta desse tipo só pode sair da cabeça de um insano que acha importante destruir a economia a fim de limpar o caminho para o neoliberalismo radical, que presume a retirada completa do Estado de todas as funções básicas da economia, inclusive as estratégicas. Ideias desse tipo nunca prosperaram no mundo, inclusive no berço do neoliberalismo que foi a Inglaterra de Thatcher, que manteve estatal, por exemplo, o sistema de saúde. No Chile os ataques neoliberais foram mais longe, porém o país estava sob uma ditadura sanguinária.
O grupo de Guedes quer privatizar tudo, e, na verdade, já está privatizando o Estado numa velocidade espantosa. Até ícones da economia nacional, como o sistema Petrobrás e o sistema Eletrobrás, já estão sob ataque feroz dos neoliberais que Jair Bolsonaro encastelou no Governo. Supunha-se, quando o Ministério foi montado, que se poderia esperar dos generais que foram para o Governo que formassem uma corrente nacionalista para defender a economia nacional. Engano. São tão entreguistas quanto os civis.
Mas a História se move dialeticamente. Toda ação política ou social extremada provoca uma reação. A reação da sociedade diante do radicalismo extremo de Guedes/Bolsonaro começa a se organizar por setores inesperados. No caso da Previdência, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, Conic; a Coordenadoria Ecumênica do Serviço, CESE, e Cáritas, organizações de base religiosa mas com uma profunda vivência social estão convocando uma sucessão de Vigílias contra a destruição da Previdência, a partir do dia 14.
No dia seguinte, 15, será a vez de um verdadeiro levante do setor da Educação, justificadamente enfurecido com o ataque neoliberal às universidades. Isso pode ser considerado preparatório de mobilizações mais amplas, como a greve geral convocada pelas centrais sindicais para 14 de junho, já contando com o apoio do Conic e demais organizações mencionadas. Nesse último caso, o que se pretende é uma Vigília permanente até a votação da reforma da Previdência de Guedes, como seu infame regime de capitalização.
Não se espera que grandes mobilizações de rua vão surgir de uma hora para outra. As grandes mobilizações que levaram à democratização nos anos 80 começaram em recinto fechado. De repente acontece algo que acende a pólvora. Por exemplo, os caminhoneiros estão nada satisfeitos com a política neoliberal de preços da Petrobrás. Uma configuração importante está se formando, inclusive o engajamento de forças religiosas significativas, similar ao que aconteceu nas greves de 1988. Por sua credibilidade e imparcialidade partidária, elas podem ser um significativo ponto de encontro do inconformismo, junto com os trabalhadores e o povo em geral.
* Jornalista, economista e professor