Bela Megale, em sua coluna no jornal O Globo, diz que Márcia Amarílio da Cunha Silva, a primeira mulher nomeada para a equipe de transição do governo de Jair Bolsonaro, foi exonerada do ministério da Educação (MEC). Ela ocupava o cargo de subsecretária de Fomento às Escolas Cívico-Militares da pasta. A exoneração foi publicada no dia 2 de maio, no Diário Oficial da União.
Tenente-coronel do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, Márcia participou do grupo de militares que fez o programa de governo de Bolsonaro durante sua campanha. Esse grupo era coordenado pelo general Heleno, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Procurado, o Ministério afirmou que a demissão de Márcia se deu por “razões técnicas”, diz a colunista. E completa que não é como ela vê. Abaixo a entrevista da tenente-coronel à coluna:
Quando a senhora soube de sua exoneração?
Eu fiquei 72 dias na função e estava desempenhando meu papel, mas houve uma mudança de ministro. A nova equipe já veio com outro nome para o meu cargo. Eles não quiseram, não tinham interesse em conhecer o meu trabalho. Com uma semana do novo ministro (Abraham Weintraub), eu fui exonerada.
O MEC alegou que a senhora foi exonerada por razões técnicas. Concorda?
Eles receberam um pedido para colocar outra pessoa em meu lugar. Se fosse critério técnico, eles teriam parado para prestar atenção no que eu estava oferecendo. Não tiverem interesse nem em ouvir o que eu tinha para passar. Falaram que iam me substituir porque é assim que tem que ser. Percebemos claramente que não foi técnico, foi político.
Por que não procurou o presidente Bolsonaro ou o general Heleno, já que chegou a trabalhar com eles na campanha?
Eles estão focados em demandas maiores, como Venezuela, reforma da Previdência, acabo não querendo perturbar. Acho que, nesse contexto, o que eu passei não tem tanta importância, então foi opção minha não procurá-los.
O que a senhora está fazendo hoje?
Voltei para o Corpo de Bombeiros.
Avalia que sua demissão pode ter alguma relação com o fato de ser mulher?
Acredito que não foi relacionado ao gênero. Quero crer que não foi por isso.
Faltam mulheres no governo Bolsonaro?
Eu estava na campanha justamente pelo fato de ter esse olhar para o lado feminino. Havia essa preocupação com o viés da mulher. Eu estava sempre apoiando nessas questões.
Essa preocupação está refletida no governo?
Eu me envolvi muito no meu trabalho e não percebi se havia mulheres em outros ministérios, se estava faltando. A minha subsecretaria era só composta por mulheres. Tinha um homem entre oito pessoas.
A senhora voltaria para governo?
Sim, eu voltaria.
A colunista ouviu o outro lado:
O MEC entrou em contato com a coluna nesta sexta-feira (10) e afirmou “o cargo da subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares da Secretaria de Educação Básica é de livre nomeação e exoneração, conforme Art. 37 da Constituição Federal”. Também disse que “não há nenhuma indicação no momento”. No dia seguinte da publicação da exoneração de Márcia, porém, o Diário Oficial publicouo nome de Aroldo Ribeiro Cursino como subsecretário de Fomento às Escolas Cívico-Militares.