Ex-presidente do Peru se mata diante de ordem de prisão por caso Odebrecht
Para o colunista da revista britânica The Economist e ex-correspondente da publicação no Peru, Michael Reid, o suicídio de Alan García tem paralelos com o de Getúlio Vargas (1954). A informação foi publicada, na Folha de São Paulo em matéria da jornalista Sylvia Colombo, da qual este Portal reproduz alguns trechos abaixo.
“Ambos haviam tido um primeiro mandato no passado que consideravam exitoso e quiseram reviver isso depois num segundo período. Também ambos eram animais políticos e, quando se viram pressionados a ter de ficar de fora da política, preferiram se matar. E, em terceiro, diria que mesmo tendo cometido erros, eram homens inteligentes. Ambos muito bom oradores, afirmou.
Para Reid, autor do livro “Forgotten Continent” (Continente esquecido, sobre a América Latina), as declarações de García sobre a falta de evidências concretas para sua acusação são corretas.
“A única das acusações contra ele de que se tem uma prova concreta é que ele recebeu dinheiro da Odebrecht pela palestra na Fiesp, em São Paulo. Mas essas coisas são pagas, são legais. Estabelecer um vínculo com subornos em seu governo a partir apenas dessa evidência, é algo que não se sustenta muito. Não digo que não tenha sido corrupto, mas é verdade que ainda faltavam evidências contundentes para prendê-lo agora.”
Reid crê que o Peru se diferencia dos outros países latino-americanos nesse caso do escândalo da Odebrecht, com investigações e prisões de quase todos os ex-presidentes, porque “há uma geração nova na Justiça, que se mostrou engajada em levar adiante as investigações”.
“Em segundo lugar, o Peru é um país que sempre contestou muito seus governantes, tanto que eles perdem a popularidade sempre muito cedo, essa tradição da cultura histórica ajuda a acelerar o processo. Também creio que a imprensa se empenhou muito em divulgar os casos de corrupção.”
Para o jornalista, a morte de García não vai mudar a opinião geral dos peruanos, “de que era um líder arrogante e corrupto”, mas também o transformará em vítima para os apoiadores de um partido que tem “muita mística”, o Apra, o que pode significar um crescimento do partido num futuro a médio prazo.
É preciso acrescentar que, como no Brasil, a Lava Jato peruana foi municiada pelo serviço de inteligência dos Estados Unidos, a grande potência imperialista que também esteve envolvida nas conspirações que resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, assim como no golpe militar de 1964 no Brasil, ou 1973 no Chile e 1975 na Argentina, entre outros.
A rede global de espionagem criada por Washington elegeu a Odebrecht como um de seus principais alvos, junto com a Petrobras, a presidenta Dilma e muitos dos seus ex-assessores. Com os favores da força tarefa da Lava Jato praticamente destruiu a maior multinacional brasileira no ramo da construção civil para deleite e lucro das concorrentes estadunidenses, criou as condições para o golpe de 2016, a prisão de Lula e a eleição de Jair Bolsonaro, o novo peão de Trump na ofensiva contra as forças progressistas do nosso continente.