Na posse do novo ministro da Educação, o economista e professor Abraham Weintraub, nesta terça-feira, 9, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicou como um dos objetivos da pasta desestimular o interesse de crianças e adolescentes por política nas escolas. “Queremos uma garotada que comece a não se interessar por política, como é atualmente dentro das escolas, mas comece a aprender coisas que possam levá-las ao espaço no futuro”, disse.
Na cerimônia de transmissão de cargo, Weintraub disse que o MEC está pacificado e quem discordar do rumo a ser adotado “por favor avise, porque vai ser tirado. A pessoa pode ter a convicção pessoal que for, mas a partir do momento em que eu entro no governo, tenho que me pautar pelas convicções que são do topo do time”.
Em entrevista, perguntado sobre como enfrentar a violência nas escolas, indicou a criminalização: “Se o aluno agride, o professor tem de fazer boletim de ocorrência. Chama a polícia, os pais vão ser processados e, no limite, tem que tirar o Bolsa Família dos pais e até a tutela do filho” (estaria insinuando que só filhos de pobre são violentos nas escolas?). Sobre filosofia, explanou: “Não sou contra estudar filosofia, gosto de estudar filosofia. Mas imagina uma família de agricultores que o filho entrou na faculdade e, quatro anos depois, volta com título de antropólogo? Acho que ele traria mais bem-estar para ele e para a comunidade se fosse veterinário, dentista, professor, médico”.
Considerou que “Jair Bolsonaro é uma bandeira. Atrás dessa bandeira, há vários grupos: monarquistas, militares, evangélicos, liberais e olavistas”. Afirmou também que não vai “caçar ninguém. Não sou caçador de comunistas. Não gosto do comunismo, mas aceito o comunista. Quero a redenção dele”. Chamou de ignorantes os que votam no PT: “Uma pessoa que sabe ler e escrever e tem acesso à internet não vota no PT”. Esposando o pensamento de Bolsonaro, disse ser “contra qualquer discussão política até o ensino secundário”.
O preço do analfabetismo político
O novo ministro reflete o pensamento e orientação do atual governo, que faz do antipetismo, anticomunismo e conservadorismo nos costumes, ao lado da defesa do ultraliberalismo na economia e do seguidismo da política externa estadunidense, os eixos de sua ação. Daí seu horror à política e seu empenho em formar analfabetos políticos.
Como revelou Bertolt Brecht, dramaturgo e escritor alemão, “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
Nas últimas eleições, quase 58 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro. Seu opositor, Haddad, recebeu pouco mais de 47 milhões de votos. Perto de 42,5 milhões se abstiveram, votaram em branco ou anularam o voto. Como ensinou Platão, “o preço que os homens de bem pagam pela indiferença aos assuntos políticos é ser governado pelos maus”.
Carlos Pompe