Por que em pleno século 21 as mulheres ainda são tolhidas em assumir o protagonismo de suas próprias vidas? Do impedimento de cortar o próprio cabelo sem autorização do marido até a sub representação nos espaços de poder e decisão as mulheres enfrentam o histórico e ideológico tratamento de seres de segunda categoria, relegadas ao espaço privado e mesmo nesse espaço, no qual são apresentadas como “rainhas”, sofrem todo tipo violência. No trabalho, ganham menos que os homens por um trabalho igual e às vezes mais complexo, sofrem todo tipo de assédio e precisam lidar com a dupla ou tripla jornada. Nos espaços de poder e decisão, em especial no parlamento e representações em movimentos sociais,, sofrem violência política.
As mulheres que ousam entrar na política enfrentam muitos riscos. Em especial as mulheres negras e militantes dos movimentos sociais com ênfase nas mulheres do campo. Marielle Franco, vereadora da cidade do Rio de Janeiro, foi executada aos 38 anos num atentado que também tirou a vida de seu motorista. Dorothy Stang, Margarida Alves, Dora Priantes, Francisca das Chagas Silva, Maria Ildonei de Lima Pedra, Leila Cleópatra Ximenes, também foram assassinadas e como no caso de Marielle, ninguém foi preso ou foi preso e depois solto para viver e conviver em sociedade.
Presença de mulheres no Congresso é muito menor que maioria das nações do G-20 e da América Latina; no mundo, País é apenas o 157º de 187 países segundo dados do Banco Mundial.
Dentre os países do G20, onde México e África do Sul são os primeiros lugares, o Brasil fica na vice lanterna. Só ganha do Japão.
Na América Latina, Cuba e Bolívia tem mais de 50% de representação feminina no parlamento. Brasil só ganha do Haiti, ficando mais uma vez com vice lanterna.
Em que pese esforços do movimento de mulheres, das parlamentares da bancada feminina e com organismos internacionais como a ONU Mulheres no Brasil 50-50 que procura parcerias institucionais com o governo brasileiro, Estados e municípios para que sejam atingidas as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com ênfase na igualdade de gênero, buscar seu empoderamento na vida pessoal ou pública, o Brasil ainda amarga apenas 10,7% de mulheres no parlamento e pode significar risco às suas próprias vidas.
Isis Tavares é presidenta da CTB-AM e secretária de Gênero da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.