Por Fernando Brito*
Corre nas redes a frase de Rodrigo Maia, de quem pouca noticia há dos tempos em que era um trabalhador, não um deputado, dizendo que “[todos] conseguimos trabalhar até 80 anos ou 65 anos”.
É coisa mesmo de “filhinho de papai” que nunca deu duro no batente.
E não é só porque aos 65 anos o pedreiro, o servente, o carregador, o trabalhador braçal já não têm forças para suas tarefas, nem o comerciário suporta o dia inteiro em pé, como não aguenta o professor, também com as cordas vocais arruinadas, nem a mulher que carregou a criação dos filhos sem babás ou empregadas como as que o ex-garoto pimpão que preside a Câmara teve.
É porque aos 50 – às vezes antes – o cidadão e a cidadã sem padrinhos ou cargos públicos passa a viver o terror de que, se o demitirem do trabalho que tem, dificilmente haverá outro que o aceite.
Maia fez esta declaração para sustentar a desnecessidade de uma regra de transição, seja para a aposentadoria após os 65 anos de idade, seja para o aumento do tempo de contribuição, crueldade que nem mesmo na proposta de reforma de Michel Temer se ousou pensar.
Aposentadoria, no Brasil, não é prêmio, algo que basta ver os níveis dos proventos de imensa maioria dos cidadãos, salvo os pagos àqueles que ocupam cargos nas corporações de Estado, quase todos eles, aliás, com rendas suplementares.
O furor dos economistas e políticos “do mercado”, porém, está conseguindo reverter, em poucos dias, o que a propaganda longa e avassaladora da mídia sobre uma reforma dura na Previdência ser a única forma de que o Brasil sobreviva vinha conseguindo.
Nas conversas de rua já se começa a observar que as pessoas percebem que elas pagarão caro para que outros ganhem.
E que a reforma de Bolsonaro já pinta pior de “a do Temer”, que não houve.
Daí a pressa, desesperada pressa, para aprovar medidas que, na prática, só começam a surtir efeitos em médio e longo prazos.
O mal, já o percebia Maquiavel, deve ser feito rápido e de uma só vez.
*Jornalista, editor do Blog Tijolaço