Aproveito o debate em torno da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados para além de opinar sobre o tema, sugerir que nos polarizemos mais sobre a caracterização do quadro político mais geral atual e investiguemos, com afinco, as razões que nos levaram até aqui.
Penso que, com esse foco, seremos capazes de melhor analisar as estratégias, inclusive a das últimas eleições, e atualizarmos as nossas táticas para as mais variadas frentes de luta que atuamos, dentre elas, a parlamentar. Não deve haver desconexão dessas específicas com a linha mais geral.
Registro que corroboro com o apoio à candidatura do Deputado Federal Rodrigo Maia pelas inúmeras razões já fundamentadas, inclusive pelo PCdoB. Julgo que é um passo tático condicionado pela desfavorável conjuntura, mas em sintonia com as táticas sagazes, amplas e com o sentido da resistência que a nova quadra exige.
Se as circunstâncias políticas da última eleição dessa mesma Presidência exigiram o mesmo esforço e movimento, as de hoje impõem-se como exigência. Esta centralidade advém de forças que examinam a concretude das condições políticas que ora se estabeleceram no Brasil e em particular, no Executivo e no parlamento federal.
São daqueles que consideram que em 2018 não tivemos apenas uma mudança na Presidência da República. Opinamos que o Brasil, através do sufrágio universal, foi tragado pelas novas condições geopolíticas, nas quais, a extrema direita ganha relevância com sua base social e representações em executivos e parlamentos, provocando um relativo isolamento do pensamento progressista em escala global.
Estes mesmos fatos são as novas objetividades atuais em nosso país. Uma base conservadora e reacionária do Brasil venceu as últimas eleições e quase já no primeiro turno. Essa vitória revelou que eles identificaram, compreenderam e manipularam os aspectos sociais, os valores e o desalento, em particular da classe trabalhadora e dos novos estratos que compõem a nova sociedade brasileira. Portanto, a ultradireita, em consórcio, obteve uma vitória política e ideológica, configurando-se numa derrota estratégica para o campo popular e democrático.
Contudo, para alguns, trata-se apenas de um rodízio que faz parte da vida democrática, e que logo estaremos de volta; para outros, uma “oportunidade” de desenvolver uma política demarcatória com efeitos restritos aos seus próprios interesses propagandísticos. Como exemplo e lição, essa pregação de hoje é a repetição de posições errôneas ocorridas contra a participação da disputa presidencial no colégio eleitoral em 1985. Foi daquela correta tática pela participação – na qual o PCdoB teve também importante papel – que se garantiu uma transição interrompendo a ditadura militar e a elaboração de uma nova Constituição realizada pela Assembleia Nacional Constituinte.
O tempo e a vida real fizeram com que as vozes contrárias de outrora elegessem atualmente essa mesma Constituição como sendo a depositária da defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos sociais.
A esquerda brasileira ainda não investigou adequadamente as causas de nossa derrota, não só a eleitoral, mas sobretudo, a perda de base social, até mesmo dos milhões de assalariados que foram alçados às novas condições pelo ciclo Lula-Dilma. A guerra híbrida que o país foi submetido explica o “êxito” do meio, mas o campo fértil para sua exploração advém de algumas insuficiências programáticas e táticas do nosso projeto. Penso que o campo democrático, popular e progressista deve investir mais energia nesse foco e menos em secundários que só geram mais dispersão e isolamento político.
Afastar-se desse estudo e o não reconhecimento das dimensões de nossa derrota impedem que atualizemos as táticas que a conjuntura exige, proporcionando, sobre alguns – explícito agora na eleição à Presidência da Câmara Federal – caminhos que produzem apenas barulhos à ouvidos restritos e seletivos, menosprezando alguns postos e pressupostos necessários para desenvolvermos a guerrilha parlamentar federal. O voto do PCdoB à Presidência da Câmara busca melhor posicionar-se para melhor resistir. O sistema pactuado com a Constituição de 1988 está cotidianamente sob ataque e exige de nós ações com quem tem o compromisso de respeitá-la.
Em 2016 o país foi gravemente ferido com um golpe jurídico-parlamentar-midiático, criando as condições para que a ultradireita assumisse a Presidência da República em 2019. A execução desse programa implica em atacar a democracia, fragilizar a soberania nacional e subtrair direitos sociais. Esse contexto exige que disputemos menos as bolhas e falemos, convençamos e agreguemos os milhões que, anestesiados, se envolveram numa nova e perigosa farsa.
Portanto, saímos de uma fase de ameaça e adentramos na de sobrevivência, exigindo assim, a mais radical amplitude para o êxito de nossa resistência. O PCdoB, em particular, vítima de uma reforma eleitoral antidemocrática, guia-se nessa direção.
Assim penso.
*Divanilton Pereira é vice-presidente nacional da CTB e membro do Comitê Central do PCdoB.