Contribuições à análise da conjuntura política, da avaliação das eleições de 2018, no Brasil, da formação e feições do governo de Jair Bolsonaro.
Contextualização das eleições 2018
Na geopolítica internacional o Brasil, nas últimas duas décadas, nos governos de Lula e Dilma, se situou no contexto regional de reafirmação de Estado nacional e soberano, de cultura antiliberal, alinhados aos governos democráticos e populares de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela, Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina, Evo Morales, na Bolívia, Fernando Lugo, no Paraguai e Rafael Correa, Equador.
Neste contexto ocorreu o fortalecimento do Mercosul, a formação do G20 e a criação dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de relações comerciais com a África e Ásia, configurando polos geopolíticos e econômicos de articulações e resistências a predominância norte americana dos Estados Unidos da América contrariando os interesses econômicos e políticos da agenda imposta pelo Consenso de Washington, levando o Pentágono a um reposicionamento político na região.
Sendo desenvolvida uma política de desestabilização desses governos democráticos e populares na América Latina, com golpes político-jurídico-midiático e de criminalização de seus ex-governantes.
Foi neste contexto que ocorreram as eleições brasileiras de 2018, fortemente marcada por atuação das operações seletivas da Lava Jato, prisão do presidente Lula, criminalização da política, intervenção dos “jornalões” nas matérias, manchetes e nas entrevistas aos candidatos presidenciáveis encurralando-os e desmoralizando-os em rede nacional, a exemplo do Jornal Nacional.
Esquivando destas amarras, Bolsonaro representou o antissistema, o antipetismo, o falso combate à violência, à corrupção, ao “kit gay” e a defesa dos “valores” da família e, com o uso das tecnologias do Whatsapp e das fakenews nas redes sociais, ele encontrou campo fértil para disseminar sua narrativa sem adentrar no mérito do projeto de nação e de desenvolvimento para o Brasil, este conjunto de elementos externos e internos levaram Jair Bolsonaro à presidência do Brasil.
Feições do novo governo brasileiro
O governo de Jair Bolsonaro vai se configurando de feições autoritária, extrema direita política, rumo a ditatorial, fundamentalista, ultraliberal, privatista, de aplicação de forte ajuste fiscal, Estado mínimo, anulação dos direitos fundamentais, trabalhistas e previdenciários, entrega da soberania nacional, tendo como alvos as esquerdas, os movimentos sociais e sindical, ataques aos trabalhadores e ao meio ambiental, aos meios de comunicações tradicionais, governo populista e que privilegia o contato direto com o povo via redes sociais.
Aplicação da agenda do capital contra o trabalho, aprofundamento da reforma trabalhista e previdenciária, limitação do papel da Justiça do Trabalho com intervenção mínima nos conflitos individuais e coletivos, o fim da contribuição sindical obrigatória para cercear a sustentação material do sindicalismo e a diminuição dos gastos sociais e de criminalização dos movimentos sociais e sindical, estão no bojo das ações propagadas pelo governo neofascista de Bolsonaro.
Nas relações internacionais sinaliza-se extremista e de oposição à China, maior parceiro comercial do país, de alinhamento aos Estados Unidos da América e a Israel, por outro lado, fragilização do Mercosul e das construções geopolíticas e econômicas macrorregionais existentes.
Resistência, unidade e luta
O golpe de 2016 se consolidou nas eleições presidenciais de 2018 com a vitória de Jair Bolsonaro. A resistência tem como centro a formação de uma frente ampla em defesa da democracia, da Constituição Federal de 1988 e das liberdades políticas e sociais.
A unidade requer o máximo de forças políticas e sociais para combater o autoritarismo, o fascismo e isolar o governo extremista de Bolsonaro que é o inimigo comum, para a defesa da democracia, da soberania nacional, dos direitos fundamentais e dos movimentos sociais, sindical, das esquerdas e do povo brasileiro.
A luta do povo e da classe trabalhadora é contra o neofascismo e o extremismo autoritário, agravados com o aprofundamento da aplicação do neoliberalismo, dos efeitos da 4° revolução industrial, do desemprego alarme e crescente, da extinção do Ministério do Trabalho, da carteira verde e amarela de trabalho sem direitos e precarizados, da marginalização dos trabalhadores e de suas organizações sindicais.
Resistência, coordenada pelas centrais sindicais, à reforma da previdência bem como na defesa de todos os direitos e conquistas da classe trabalhadora, a luta por empregos de qualidade e por melhores salários, com retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento nacional.
Neste contexto a resistência, a unidade e a luta devem ser amplas e não isoladas, de relacionamento com as massas sociais e o povo, com os trabalhadores e trabalhadoras, amplitude com as mais diversas forças políticas e sociais para enfrentamento das batalhas atuais e futuros na defesa do Brasil e de seu povo.
Belém-Pará, 07 de dezembro de 2018.
Cleber Rezende
Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB/Pará.