O Comitê Norueguês do Nobel anunciou os vencedores do Prêmio Nobel da Paz 2018, nesta sexta-feira (5), em Oslo, capital da Noruega. Por suas atividades de combate às guerras e à violência sexual, o médico congolês Denis Mukwege e a ativista da minoria yazidi Nadia Murad, do Iraque, venceram a disputa entre as 115 organizações e os 216 indivíduos indicados. O prêmio é de aproximadamente US$ 1 milhão e será entregue numa cerimônia em Oslo em 10 de dezembro – Dia Internacional dos Direitos Humanos.
“Muito merecido o Nobel da Paz para esses ativistas”, afirma Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB. “Os dois têm um trabalho fundamental para resgatar as vítimas desses crimes hediondos”.
Para a sindicalista mineira, o exemplo de resistência e luta de ambos serve “de inspiração para todas as pessoas que defendem a cultura da paz e não acreditam no poder das armas e da opressão para resolver nenhum tipo de problema”.
O médico ginecologista Mukwege, de 63 anos, conta horrores sobre vítimas de estupro na guerra da República Democrática do Congo. Ele ganhou o prêmio pela sua dedicação no atendimento das vítimas e na ajuda ao encaminhamento de suas vidas, depois de atendidas, cuidadas e medicadas.
Nadia, de 25 anos, foi sequestrada pelo Estado Islâmico em 2014, no Iraque e transformada em escrava sexual, juntamente com outras 3 mil meninas, da minoria yazidi – grupo étnico-religioso do Iraque. Ela permaneceu três meses como escrava. Quando conseguiu escapar do grupo defensor do ódio e da violência às minorias, se transformou numa ardorosa defensora das vítimas de estupro.
“Denis Mukwege e Nadia Murad colocaram sua segurança pessoal em risco ao combaterem com coragem crimes de guerra e buscarem justiça para suas vítimas”, explica em nota o Comitê responsável pelo Nobel da Paz. “Eles promoveram a fraternidade entre nações ao aplicarem princípios da legislação internacional”, complementa.
Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê norueguês, afirma que a intenção com a premiação dos ativistas é passar para o mundo uma “mensagem de conscientização, de que as mulheres precisam de proteção e de que agressores devem ser processados e responsabilizados por suas ações”.
A jovem Nadia conta à BBC News que foi raptada com milhares de meninas quando os fanáticos do Estado Islâmico cercaram a sua aldeia, depois invadiram, mataram os homens e as mulheres mais velhas. Escravizaram crianças e as mulheres mais jovens.
Ela conta que até meninas de 10 anos foram transformadas em escravas sexuais. “Perguntei por que faziam aquilo conosco, por que haviam matado nossos homens, por que nos estupraram violentamente. Disseram-me que ‘os yazidis são infiéis, não são um povo das Escrituras, são um espólio de guerra e merecem ser destruídos'”.
Para Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB, “o fanatismo leva pessoas e grupos à cegueira” e isso “é um passo para o uso da violência e do abuso”. Ela acredita, porém, que a cultura do estupro ultrapassa as fronteiras do Oriente Médio, onde fica o grupo Estado Islâmico. “Muitos grupos de diversos países defendem abertamente a violência contra as mulheres, contra a juventude e às chamadas minorias”, diz.
O médico Mukwege relata também à BBC a sua experiência e o terror experimentado ao atender vítimas da Guerra do Congo. “Comecei a me perguntar o que estava acontecendo”, relata. Para ele, a violência sexual se transformou em “arma de guerra”.
Ele já atendeu mais de 30 mil vítimas de abuso sexual com ferimentos graves em seu país, que vive uma guerra civil que deixou mais de 6 milhões de mortos, e milhares de mulheres vêm sendo submetidas a estupros.
Celina analisa o perigo que grupos extremisntas representam para a sociedade. “Ainda mais quando são misóginos (ódio às mulheres), racistas e LGBTfóbicos. É necessário muita reflexão sobre os projetos de defensores do ódio, da opressão e da utilização de armas como segurança pública”.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB com informações da BBC News. Foto: Picture Alliance/Dpa