Mulheres saem às ruas e se tornam protagonistas na defesa de democracia

O movimento de mulheres e o próprio feminismo sempre causam discussões polêmicas de toda ordem, que têm como pano de fundo suas concepções e práticas organizativas importantes para a disputa das pautas chamadas identitárias que têm sido apropriadas e ressignificadas por setores reacionários em especial no Parlamento.

A partir de 2016, o movimento de mulheres tomou um impulso muito grande com o golpe que afastou Dilma Rousseff da Presidência da República. A compreensão de que todas as conquistas e avanços nas políticas para as mulheres tinham ali o viés da misoginia, que simbolizava a voz masculina, velha, branca e machista dos setores reacionários da política brasileira.

Não foi por acaso que se tentou criar na sociedade a figura da mulher “bela, recatada e do lar” em contraposição à mulher forte, determinada, que poderia ser o que quisesse, inclusive presidenta da República. Para as parlamentares, o Parlamento passou a ser mais hostil e desrespeitoso, com demonstrações públicas de agressão e ofensas. 

Mas o movimento cada vez mais incorporava mulheres de diferentes gerações e setores da sociedade que começaram a se declarar feministas.

Infelizmente esse crescimento não se refletiu nas candidaturas femininas nestas eleições. Diminuiu. O que talvez reflita o sentimento de negação da política, que vem sendo ideologicamente estimulado, aliado à violência política contra as mulheres no Congresso Nacional e nos parlamentos e intituições públicas brasileiras.

Com o espaço alavancado pela grande mídia ao candidato do PSL, como estratégia de continuação do golpe e sua influência em uma grande camada da sociedade, as mulheres, principal alvo de suas declarações virulentas, começaram a questionar o que realmente significa antipolítica de armamento e perda dos seus direitos e de suas famílias, temperada com a incitação de muito ódio e intolerância. 

Mulheres unidas

Através das redes sociais, conseguiram reunir mulheres de diferentes concepções políticas e que têm um objetivo em comum: impedir que seja eleito alguém que representa o que há de mais atrasado na política do nosso país com a hashtag #EleNão. Elas querem lmais que reconhecimento. Querem valorização das mulheres que não se furtam em se expor seu pensamento.

Muitas mulheres ainda não compareceram ou se manifestaram por ainda serem reféns de lares opressores, mas os avanços já são significativos. E as manifestações em todo o país e em diversas cidades de outros países comprovam os importantes avanços na organziação e nas lutas das mulheres.

O dia 29 de setembro de 2018, ficará marcado na história do Brasil e do mundo, como o dia em que as mulheres brasileiras tomaram nas mãos o protagonismo da defesa da democracia e de estancar o avanço do fascismo em nosso país. 

Mas há que se ter a devida consideração com a relevância política do ato que levou multidões às ruas. Não abrimos apenas o caminho para que daqui pra frente ganhemos um reconhecimento público e sejamos orientadas a ficar a postos quando precisarem de novo.

Não repetir o passado

Na Segunda Guerra Mundial, com os homens tendo que se alistar e viajando para os fronts de batalha, elas foram contratadas para trabalhar em fábricas de bombas e peças de aeronaves, como guardas de ataque aéreo, para trabalhos antes realizados por homens. Ao fim da guerra, elas simplesmente foram dispensadas para que os homens assumissem os postos de trabalho.

Se tem algo incontestável nessa conjuntura, é que não dá para ignorar a presença das mulheres na política e perpetuar a mesma prática machista do século passado, de relegar as mulheres aos espaços privados e subrepresentadas no Parlamento ou à periferia dos espaços de poder e decisão.

Há que se reconhecer na continuação da luta, que mulheres na política são imprescindíveis e que são grandes companheiras de poder.

Isis Tavares é presidenta da CTB-AM e secretária de Gênero da Confederação Nacionald dos Trabalhadores em Educação.


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