Entrevista com Alexsandra de Carvalho, presidenta do Sindicato dos Comerciários do Rio*

Alexsandra de Carvalho, mais conhecida como Sandra, assumiu a presidência do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro (SEC-RJ) após o licenciamento de Márcio Ayer, que disputa uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, pelo PCdoB-RJ. Sandra foi eleita como vice-presidenta do SEC-RJ em 2015, na histórica vitória da chapa cetebista “A hora da mudança”, com 82,4% dos votos válidos. “Foi uma grande vitória. Ninguém aguentava mais a falta de ação da ex-diretoria, que controlava o sindicato com mão de ferro”, afirma Sandra, que trabalhou por quatro anos como empacotadora na rede de supermercados Guanabara.

Leia aqui a entrevista da revista Mulher de Classe:

Mulher de Classe: É a primeira vez que uma mulher assume a presidência do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro. Como a senhora vê isso?

Alexsandra de Carvalho: É uma grande novidade. Primeiro porque tínhamos uma direção extremamente concentradora e autoritária. Com a nossa vitória, iniciamos um trabalho de trazer a categoria para o sindicato e também de irmos até eles para levar a nossa mensagem e mostrar a importância do sindicato para melhorar a relações de trabalho e defender nossos direitos.

Foi uma grande vitória. Ninguém aguentava mais a falta de ação da ex-diretoria, que controlava o sindicato com mão de ferro. Hoje a presença feminina na direção do nosso sindicato aumentou e estamos trabalhando pela conscientização das mulheres de que somente atuando é que podemos mudar o movimento sindical.

Ainda somos muito desrespeitadas, mas insistimos, nos organizamos e mostramos que as mulheres são de luta e podem unidas transformar não só o movimento sindical como este país num lugar bom para se viver.

Aumenta a responsabilidade?

O fato de ser a primeira aumenta e muito a responsabilidade, porque nunca na história em 110 anos, tivemos uma mulher na presidência, sendo ela uma empacotadora de supermercado. Sei da importância de estar neste cargo, num momento de avanço de ideias conservadoras que atacam o movimento sindical, mas também retiram os direitos das mulheres com mais gana ainda.

As mulheres são as que mais sofrem em tempos de crise. Somos as primeiras a perder o emprego, temos mais dificuldade em nos realocarmos no mercado de trabalho, e além de ganharmos salários mais baixos, sofremos assédio moral e sexual.

alexsandra de carvalho

O movimento sindical tem poucas mulheres em cargos de direção. Mais mulheres na política pode mudar essa realidade?

Penso que devemos investir com mais determinação na formação política e sindical da mulher trabalhadora. Mostrar a importância da presença feminina nas instâncias de poder para defendermos a igualdade de direitos e combatermos a violência em todos os seus vieses.

Somos mais da metade da população, mas o machismo faz de tudo para impedir que participemos com mais força em todos os movimentos. Por isso, as eleições deste ano, são fundamentais para trazermos a democracia de volta ao país. Porque somente com democracia as mulheres têm mais possibilidades de se empoderar em todos os espaços. Inclusive nos sindicatos de forma efetiva em cargos de decisões.

Ser mulher sindicalista acarreta mais trabalho do que em geral as mulheres já têm com dupla e as vezes tripla jornadas?

Atuar em sindicato classista, ou seja, com a consciência da luta de classes, acaba exigindo um pouco mais, somos mais cobradas, porque alguns homens ainda se sentem inseguros quando uma mulher exerce um cargo de direção importante, mas isso vem mudando aos poucos, porque as mulheres estão se impondo.

Eu, particularmente, concilio bem porque em casa divido tarefas domésticas. Existem homens que compreendem a nossa luta e estão conosco.

Enfrenta dificuldade em se impor na direção do sindicato?

Sim, muita! O preconceito a vaidade e o machismo, muitas vezes acabam prevalecendo sobre a razão dos problemas nesta conjuntura atual no país, em especial nos sindicatos. Fazer ajustes e cortes neste momento, exige firmeza, nas tomadas de decisões. Não é fácil assumir uma entidade sindical num momento tão adverso e ainda ser a primeira mulher a presidir uma entidade com uma categoria de aproximadamente 400 mil pessoas.

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB


* Entrevista publicada originalmente na revista Mulher de Classe, edição número 9, setembro de 2018. Título original: Uma mulher no comando.

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