Depois de 90 anos de dominação de partidos conservadores se alternando no poder, Andrés Manuel López Obrador, do esquerdista Movimento de Renovação Nacional (Morena) foi eleito presidente de México neste domingo (1º).
Obrador obteve 53,3% dos votos e já teve a vitória reconhecida. “A eleição de López Obrador tem um significado histórico que transcende as fronteiras daquele país”, argumenta Divanilton Pereira, presidente interino da CTB.
Para ele, o México “que teve boa parte do seu território tomado pelo vizinho Estados Unidos e sua economia anexada pelo seu poderoso vizinho, como consequência, há décadas convive com perda de soberania, instabilidades políticas, violência, corrupção sistêmica e a metade de sua população na linha de pobreza”.
A esperança da maioria dos mexicanos é de que Obrador efetive um projeto de desenvolvimento nacional voltado para os interesses de seu país, contra a “situação imposta pela elite direitista mexicana que durante todo o século 20, como também no último período, dirigiu o país sob a tutela do liberalismo”, complementa Pereira.
Essa foi a terceira eleição disputada por ele, conhecido pela sigla AMLO, o que pode significar uma nova era em seu país. “Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos, o México tem sido um dos países mais atingidos pela política hostil de Donald Trump, que já dificultou o processo de exportação dos produtos mexicanos, está tratando os imigrantes a ferro e fogo com a expulsão e separação de famílias inteiras e ainda insiste na proposta estapafúrdia da construção do muro na fronteira’, escreve no Portal Vermelho, a jornalista Mariana Serafini.
Isso ressalta a importância dessa vitória na América Latina. Aos 64 anos, o líder do Morena promete uma transformação histórica à altura da Independência (1821), da Reforma (1857-61) e da Revolução (1910). Mas a partir de agora, as propostas grandiloquentes precisarão ser estacionadas. López Obrador terá de especificar como acabará com a corrupção, indo além de uma vaga promessa de honestidade, e definir um plano para reduzir os níveis de violência.
Além do presidente, os mexicanos elegeram neste domingo 500 deputados e 128 senadores. Também estavam em jogo 9 dos 32 estados do país, entre eles os estratégicos Cidade do México, Jalisco e Veracruz, três das entidades mais povoadas. Mais de 1.600 prefeituras também foram renovadas.
A vitória foi assegurada porque “AMLO conseguiu aglutinar uma ampla frente de forças e uma plataforma sintonizada com as aspirações do povo, este exigindo profundas mudanças em sua dramática situação de vida”, acentua Pereira.
“A força mudancista alcançou tamanha dimensão, que a elite e o seu suporte imperialista, não conseguiram dessa vez, fraldar as eleições a ponto de evitar a vitória progressista”.
Para o presidente interino, “a inédita e expressiva votação da centro-esquerda nas últimas eleições colombianas, a reeleição do presidente Nicolás Maduro na Venezuela e agora, a de Obrador, no México, são evidências de que o ciclo político da região inaugurado com Hugo Chávez em 1998 não está morto, pelo contrário, está vivo e ativo”.
Pereira crê que “esses resultados e o fracasso econômico e social nos países golpeados pela agenda neoliberal, representam novas possibilidades para que a esquerda retome a liderança nestes países”.
A vitória de uma coligação de esquerda depois de “tanto tempo sob o domínio da direita, o México se transforma em um grande exemplo para a esquerda na América Latina”, define. Mas o sucesso do governo de Obrador “dependerá da capacidade em formar uma ampla aliança capaz de ganhar e viabilizar uma agenda que valorize a soberania nacional, o desenvolvimento, o trabalho e os direito sociais dos povos de nossa região. Este desafio está posto neste momento inclusive para a esquerda brasileira”.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB. Foto: Ramon Espinosa/AP