“Trump (presidente dos Estados Unidos) engaiola crianças, Temer (presidente golpista do Brasil) mata”, mensagem que circula pela internet após a morte, “com tiro pelas costas”, como diz laudo da própria polícia, do garoto Marcos Vinícius da Silva, de apenas 14 anos, durante uma operação militar no Complexo da Maré, quando o jovem caminhava para a escola, na quarta-feira (20).
Nem a Copa do Mundo da Rússia e o choro midiático de Neymar após a vitória sofrida contra a Costa Rica, abafaram este crime contra a pessoa humana. Desta vez a dor da gente tem que sair nos jornais, nas redes sociais, em todos os veículos possíveis.
Não dá mais para segurar tanta indignação contra tamanha injustiça. As mães e pais de jovens da perifieria não aceitam mais perder seus filhos nas tais “balas perdidas” que sempre encontram corpos inocentes de meninos e meninas como Marcos com uma vida inteira pela frente.
Pobres, favelados, pretos quase todos, tratados como inimigos pelas forças da repressão, que desta vez uniu as polícias civil, militar e o Exército que intervém militarmente no Rio de Janeiro desde fevereiro e tem gente que apoia essa intervenção militar que só trouxe mais mortes e desespero para as comunidades pobres da capital fluminense.
A violência está banalizada por uma mídia cúmplice ao propagar o ódio de classe e colocar os interesses comerciais e ideológicos acima dos fatos e principalmente acima dos direitos humanos e da justiça.
Mesmo assim muitos internautas tentam mais uma vez manipular e divulgam fake news mostrando foto de um garoto com se fosse o Marcos Vinícius com uma arma nas mãos, tentando justificar o injustificável.
Bruna Silva, mãe de Marcos, mostra a sua lucidez em querer justiça, já que a vida de seu filho ninguém pode devolver. “Dizem que minha comunidade é violenta. Mas a minha comunidade não é violenta, ela é muito boa. É a operação que, quando vai lá, vai com muita truculência”.
O assassinato da vereadora Marielle Franco, que viveu no Complexo da Maré, e do motorista Anderson Gomes no centro do Rio de Janeiro, no dia 14 de março, a execução de cinco jovens, no episódio conhecido como Chacina de Maricá, no interior do estado, por milicianos, uma semana depois e a morte de Marcos Vinícius denunciam a intervenção militar no Rio de Janeiro como desastrosa e vergonhosa para as Forças Armadas brasileiras.
Matam “suspeitos” e muitos inocentes, numa inversão de valores. Porque se é suspeito, não é criminoso comprovadamente. A brutalidade contra os mais pobres, em nome da “guerra às drogas” não se justifica. E o Exército não deve se atribuir a função de atirar em brasileiras e basileiros, muito menos em jovens com uniforme da escola.
Mais uma vez Bruna mostra lucidez ao responsabilizar o Estado pelo assassinato de seu filho. “Sua morte não vai ser mais uma, a gente vai lutar por justiça. Porque esse Estado tem que melhorar. Ele não pode matar inocente e criança”, disse ela ao jornal El País Brasil.
Violência cresce com Estado de exceção
Os números do Atlas da Violência 2018 atestam que o golpe de Estado de 2016 aumentou a violência no país. Os números são aterradores e confirmam as palavras de mais uma mãe que enterra seu filho. Dor inimaginável. Os dados mostram 33.590 jovens entre 15 e 29 anos mortos em 2016, 56,5% de todos os homicídios ocorridos no país.
Além disso, foram registrados 49.497estupros no mesmo ano, sendo que 50,9% das vítimas tinham menos de 13 anos. Fato que mostra a dificuldade de ser criança num país que criminaliza qualquer manifestação a favor da liberdade e da igualdade de direitos.
Compete aos candidatos na eleição, deste ano, pensar um Sistema Nacional de Segurança Pública que contemple toda a sociedade e valorize as pessoas e a vida e não o patrimônio. Já passa da hora de agir. Porque estão matando nossos jovens à plena luz do dia e não estamos fazendo nada. E se fosse o seu filho?
Marcos Aurélio Ruy é jornalista. Foto: Mauro Pimentel/AFP
Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.