“Aborto legal no hospital” foi a palavra de ordem das manifestantes a favor do projeto de lei, aprovado após mais de 20 horas de discussões na Câmara dos Deputados da Argentina, na manhã desta quinta-feira (14).
Pelo projeto, a interrupção da gravidez passa a ser permitida até a 14ª semana de gestação no país vizinho, com o placar de 129 deputados a favor, 125 contra e uma abstenção.
Agora o projeto vai ao Senado. De qualquer forma “a aprovação pela Câmara já significa um grande avanço e o tema continuará sendo debatido de forma ampla e sem preconceitos na Argentina, ao contrário do Brasil onde os meios de comunicação e os setores conservadores deturpam o debate sobre o aborto”, define Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB.
Milhares de militantes tomaram as ruas de Buenos Aires para acompanhar a votação e segundo informações de um correspondente da Rádio França Internacional na capital argentina, o número de manifestantes a favor da descriminalização do aborto chegou a ser quatro vezes maior que dos manifestantes contrários.
“A pressão popular surtiu efeito e sensibilizou os parlamentares, mesmo que a vitória tenha sido apertada”, afirma a sindicalista mineira. Apenas em Cuba, no Uruguai e na Cidade do México, o aborto é legalizado na América Latina.
Veja como foi a manifestação nas ruas
Na Argentina a situação é similar a do Brasil. No país vizinho a interrupção gravidez é permitida em casos de estupro ou de risco de morte para a mãe. No Brasil, além desses dois motivos, soma-se aos casos de bebês anencéfalos (sem cérebro).
Várias ONGs argentinas apontam que 17% das 245 mortes de mulheres grávidas registradas em 2016 foram causadas por abortos mal feitos. As estimativas apontam para a realização de aproximadamente 450 mil abortos s todos os anos. De acordo com o Ministério da Saúde argentino, de 2006 a 2016, aforam registradas 3.314 mortes maternas, sendo que 681 mulheres morreram por abortos clandestinos, 25% delas tinha entre 25 e 29 anos.
“No Brasil, a situação é tão grave quanto na Argentina e os parlamentares ainda pensam em proibir a interrupção da gravidez em qualquer circunstância, inclusive em casos de estupro”, assinala Celina.
Para ela, o debate sobre o aborto dever ser feito “de maneira séria, sem argumentos virulentos e preconceituosos, porque milhares de mulheres pobres morrem todos os anos por causa de abortos mal feitos”.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB com informações de agências. Foto: Jorge Saenz/AP Photo