A “Marcha para Jesus”, que acontece todos os anos em São Paulo e nesse ano teve sua 28ª edição é um ato político disfarçado de ato religioso, organizado pela seita evangélica “Renascer em Cristo”.
O ato reúne milhares de pessoas, das mais diferentes denominações em sua maioria evangélicas, que caminham pelas ruas de São Paulo gritando palavras de ordem, cantando e empunhando cartazes e placas que fazem propaganda de suas próprias igrejas e denominações, entre uma e outra placa com algum versículo bíblico ou mensagem de auto ajuda.
Nessa edição a marcha percorreu 3,5 km pelas avenidas Tiradentes e Santos Dumont em direção à Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira, próximo ao Campo de Marte, na Zona Norte da Capital.
O evento reuniu em seu palanque principal a fina flor do que há de mais atrasado na sociedade, os tradicionais oportunistas de ocasião e folclóricos dublês de políticos, que há anos se elegem alicerçados no tristemente célebre discurso de ódio e discriminação contra minorias.
Nomes como Bolsonaro, João Doria e Silas Malafaia subiram ao palanque, representando o deuses aos quais servem.
João Doria representou o deus mercado, o deus privatizador, o deus empreendedor, o deus “tira direitos do pobre e dá para o empresário”.
João Doria, vale recordar, foi o candidato eleito prefeito de São Paulo que, entre outros feitos, determinou que na cracolância fossem demolidas moradias com pessoas dentro, proibiu crianças de repetirem refeições, carimbando suas mãos para identificá-las, e mandou pintar de cinza diversos grafites que embelezavam a Capital, entre outras ações grotescas.
Silas Malafaia representou o deus dinheiro, ou Mamon, segundo o livro que ele diz seguir, a Bíblia.
Milionário, o vendedor de bíblias de R$900, 00 pela TV tem um dos mais odiosos discursos contra qualquer coisa que se mova e tenha algum viés de progressista.
Obcecado pela sexualidade alheia, persegue implacavelmente, com violentos discursos, a comunidade LGBTT, incitando com isso os seguidores de sua seita a fazerem o mesmo.
Se opõe ao aborto, mas só das mulheres pobres, claro, criminalizando-as através de um machismo digno da Idade Média.
Vale lembrar também que o defensor da moral e dos bons costumes foi indiciado por lavagem de dinheiro no inquérito da Operação Timóteo. Segundo a Polícia Federal ele recebeu dinheiro ilícito de suposto esquema de corrupção.
O comerciante de Bíblias contesta e diz que tal repasse foi doação de seus fiéis.
Jair Bolsonaro também esteve presente no palanque e representou seu próprio deus — ele mesmo, a encarnação do mal, o próprio ódio encarnado.
Abro um parênteses: considero Jair Bolsonaro o principal disseminador de ódio no Brasil e co-responsável por todos os crimes de motivação homofóbica ocorridos em nosso país.
Bolsonaro não puxa o gatilho da arma que quer colocar nas mãos dos brasileiros, mas estimula as pessoas a puxarem esse gatilho.
Ele não sai a noite na Avenida Paulista estourando lâmpadas fluorescentes no rosto de homossexuais, mas sua postura encoraja pessoas que não os toleram a agirem assim.
Ele não diz diretamente aos skinheads que espanquem homossexuais na Praça da República, ou que atirem nos trilhos do trem um jovem nordestino, mas os skinheads e demais fascistas, ao ouví-lo, se sentem estimulados, representados e legitimados.
Portanto Bolsonaro representou a si mesmo, o próprio ódio, naquele palanque.
Não há espaço para o Jesus bíblico, que repartiu pão e peixe entre os pobres, na pregação meritocrática e excludente feita promovida pelas seitas evangélicas neopentecostais participantes daquele evento.
Concluo afirmando que nada tenho contra quem se declara evangélico.
Ser evangélico não torna alguém pior ou melhor, é evidente. O que assusta no evangélico é seguir o fundamentalismo religioso que os líderes evangélicos representam, um obscurantismo absurdo que nega o ser humano racional, nega a política, nega a ciência, discrimina o homossexual, corrompe a verdade e lança seus seguidores num abismo de pensamentos medievais em nome de um Jesus malversado, que sabemos se chamar DINHEIIRO.
Em tempo: Jesus não participou do evento, muito menos daquele palanque ao lado dos representantes de outros deuses.
Ouso dizer que sequer foi convidado e que, se aparecesse por lá, seria novamente crucificado.
Diógenes Júnior é assessor sindical, acadêmico em História, ativista político, pelos Direitos Humanos, pai do Fidel.
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