O jornalismo brasileiro perde um dos seus mais importantes profissionais com a morte de Audálio Dantas, aos 88 anos, nesta quarta-feira (30), vítima de câncer, que tratava desde 2015.
O velório vai até as 10h desta quinta-feira (31) no Hospital Premier (Av. Jurubatuba, 481 – Vila Cordeiro), onde faleceu e a partir das 12h na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, Vila Buarque). A família informa que o corpo será cremado no Cemitério da Vila Alpina. O horário da cremação ainda será divulgado.
Dantas presidiu o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, de 1975 a 1978 e foi o primeiro presidente eleito para a Federação Nacional dos Jornalistas. O Sindicato dos Jornalistas informa que em entrevista ao Jornal Unidade, em 2017, ele afirmou que a maioria dos jornalistas não percebe “que a defesa dos seus interesses passa por uma coisa que é civilizatória, que é a organização sindical, aquilo que permite uma discussão entre trabalho e capital. Não sendo assim, prevalece a ditadura. Só isso já bastaria para dizer que ser sindicalizado é um ato de inteligência”.
Foi eleito deputado federal pelo MDB, em 1978, quando a ditadura civil-militar (1964-1985) só permitia a existência de dois partidos (Arena, de situação e MDB, de oposição). Trabalhou em importantes veículos da mídia comercial, como a revista Realidade. Começou a carreira jornalística em 1954 no jornal da família Frias Folha da Manhã, atual Folha de S.Paulo.
Passou pela revista O Cruzeiro, Quadro Rodas, Veja (quando ainda era uma revista de informação), Manchete e Nova. Em 1981 ganhou o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Logo ao assumir a presidência do sindicato teve de enfrentar os ditadores por causa da morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975. Coube a ele denunciar o assassinato do jornalista da TV Cultura nas dependências do Doi-Codi, em São Paulo.
Alagoano de Tanque D’Arca, nascido em 8 de julho de 1929, com rara sensibilidade descobriu catadora de papel e escritora Carolina Maria de Jesus quando fazia uma reportagem na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo. Talvez o mundo não a conhecesse não fosse a curiosidade e o talento do repórter.
Dantas ajudou Carolina a publicar o seu primeiro livro Quarto de Despejo, em 1958. Para ele, a reportagem que fez sobre ela foi a mais importante de sua vida. Na entrevista ao Jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ele afirma a importância desse trabalho “não pelo texto que escrevi, mas pelos textos que transcrevi do diário da Carolina e a repercussão que isso trouxe com mais uma reportagem de cunho social que eu tinha proposto. Ela é um acontecimento literário que dura desde os anos 1960 e acho que vai continuar cada vez mais”.
Publicou os livros Graciliano Ramos (2005), O Menino Lula (2009), A Infância de Ziraldo (2012), As Duas Guerras de Vlado Herzog: da perseguição nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil (2012) e O Tempo de Reportagem: histórias que marcaram época jornalismo brasileiro (2012).
Ganhou os prêmios Kenneth David Kaunda de Humanismo, em 1981; Troféu Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2007; Título de Cidadão Paulistano da Câmara Municipal, em 2008; Prêmio Intelectual do Ano com o Troféu Juca Pato, em 2013; 55ª edição do Prêmio Jabuti, em 2016.
Audálio Dantas se notabilizou como um dos grandes repórteres brasileiros ao mostrar sensibilidade para as questões sociais e para as necessidades das pessoas que mais precisavam ser noticiadas, porque a dor dessa gente humilde não sai nos jornais. Na atual conjuntura menos ainda. “Homens como Audálio Dantas nunca deveriam morrer, mas continuarão vivos na nossa lembrança”, diz Ricardo Kotscho, outro grande jornalista.
Portal CTB com informações do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo