O aparente regresso histórico no Brasil provocado pelo golpe de Temer e sua quadrilha, tem permitido mudanças positivas nas forças sociais que estavam ingênuamente tranquilas. A riqueza indiscutível do território e da gente brasileira era um amortecedor à necessária defesa permanente diante da cobiça imperial que usa o caminho da corrupção para derrotar “almas frágeis” e subordinados mequetrefes.
Daí a dificuldade da direita em encontrar adeptos à corja que tem sido privilegiada pelas garantias jurídicas e só não está na cadeia devido ao cargo político que ocupa. Já não são muitos os que enfrentam a opinião pública batendo panelas, os que aceitam convites para fazer na Globo o papel de Bolsonaro, os que vestem toga e enrolam discursos jurídicos pensando que convencem os iletrados. Desde que prenderam o herói nacional Lula, o melhor Presidente do Brasil, deram um tiro no pé dos golpistas e a ferida gangrenou. Não tem cura mesmo, não há anti-biótico para traidores da Pátria e da Humanidade. O mundo todo diz e escreve isto, nos mais variados idiomas.
O interessante é o salto qualitativo e quantitativo da esquerda. Polarizada pelo povo – que Lula ergueu matando a fome de 40 milhões de brasileiros e abrindo o caminho da cidadania – começa a vencer as pequenas divergências que separa, ocasionalmente, tendências com raízes históricas diferentes, para construir a necessária unidade para vencer as formas de exploração que dá privilégios à elite e gera a desumanização política.
Este processo de esclarecimento político repercute em todo o mundo, onde as transformações culturais e sociais ocorrem também. Não é casual que a desmoralização do sistema judicial brasileiro que mantém em prisão arbitrária e injusta o símbolo do herói popular, tem provocado o repúdio por advogados e juristas de todo o mundo, e até nos Estados Unidos começam a apontar os abusos de poder que Trump propicia com o seu autoritarismo de cariz golpista.
Dialéticamente o abalo sofrido pela sociedade brasileira, ingênuamente tranquila “no seu berço esplêndido” onde se desenvolvia um verdadeiro Estado Social que abria caminho à efetiva participação popular – com bolsas de estudo para pobres cursarem as universidades, com quotas para vencer os preconceitos de gênero e étnicos nas carreiras e postos superiores, com serviço de saúde universal, com apoio às regiões mais distantes, com a redução dos preços dos alimentos básicos e tantas experiências de tipo socialista realizadas até mesmo na criação de uma mídia alternativa que vence o bloqueio do “quarto poder” que é oligarca e imperial – este sofrimento causado pelo golpe que destrói a soberania nacional ecoa de maneira positiva sobre a consciência mundial.
Mais que a unidade das organizações partidárias de esquerda, sindicais e outras sociais, impões o respeito a uma plataforma que tenha o povo como sujeito participante, para vencer a enorme distância na distribuição de rendas e benefícios sociais que subsiste no Brasil favorecendo os detentores do capital corruptor.
Zillah Branco é cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
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