Marielle não morreu em vão

Assassinaram Marielle. Uma mulher negra, da favela, mãe, Lésbica, uma grande liderança política que sofreu tamanha barbárie, sendo alvejada por 5 tiros certeiros de maneira premeditada.

Desde 2016 quando nossa democracia nos foi roubada, convivemos com o aumento da violência contra as mulheres, com o aumento do desemprego, aumento significativo do feminicídio contra as mulheres negras e também somos o país onde mais morrem mulheres trans assinadas.

O extermínio de Marielle é um recado a sociedade brasileira que vive num Brasil sem leis, sem direitos, onde a Democracia nos foi roubada, e desta forma o Estado Democratico de Direito sede lugar para o fascismo, o machismo, o racismo, a LGBTfobia, a covardia e o desprezo aos direitos mais elementares de uma sociedade civilizada.

O momento político que atravessamos é de conservadorismo e implementação de um projeto ultra liberal que retira direitos trabalhistas, retira direitos sociais e busca acabar com a soberania nacional entregando nossas riquezas e privatizando o patrimônio público brasileiro.

Estamos nas mãos de um presidente ilegítimo sem nenhuma popularidade que na intenção de obtê-la, resolve fazer uma intervenção militar no Rio de Janeiro, atingindo violentamente as mulheres, crianças e a juventude negra. Também mostrando que sua aliança é com as forças armadas, com o exército, com a repressão, com as forças reacionárias e não com as mulheres e homens que têm o direito ao voto e portanto, escolher seus representantes com eleições diretas.

Com a morte da Marielle, uma família se desfez. Ela e sua companheira Mônica estavam de casamento marcado, viviam uma história de amor que ainda sofre preconceitos, principalmente neste período que as bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia se tornaram a grande força hegemônica que criminaliza, regula, exclui, discrimina, mata e destrói as pessoas que ousam sair da margem e também ousam sair do armário.

Marielle foi sumariamente executada porque estava denunciando a ação violenta da polícia militar carioca nas comunidades negras e pobres do RJ.

Os racistas e machistas de plantão apostam que não temos o que dizer. Ledo engano, somos mulheres que transformam o mundo todos os dias, desde milhares de anos, em todos os lugares que estamos.

A palavra e a cultura tem um poder ancestral que herdamos de Aqualtune, Rainha Nzinga, Dandara, Safo de Lesbos, Joana Darc, Felipa de Souza, Elenira do Araguaia, Elza Monerat, Loreta Valadares, Lelia Gonzales, Mãe Meninha do Catois, Marielle e tantas outras que batalharam e batalham cotidianamente para sustentar suas filhas(os), netas(os) e para que suas comunidades, terreiros, famílias, tenham políticas públicas de qualidade nas escolas, postos de saúde, creches, enfim, tenham condições de ter uma vida digna, com salário justo, respeito, equidade, justiça social e igualdade de direitos e oportunidades para todas e todos.

Não permitiremos que nos tirem da história, que nos apaguem dos mapas, que nos invizibizem na política, que queiram calar a nossa voz.

Marielle morreu porque defendia a democracia, os direitos humanos e a dignidade de mulheres e homens que sofrem violência institucional cotidianamente no RJ e no Brasil.

Exigimos que as autoridades constituídas tanto do Governo do Estado do RJ, quanto do Governo Federal apurem este crime bárbaro e que os responsáveis sejam punidos.

Estamos nas ruas clamando por justiça e repetindo a pergunta que não vai calar:

Quem matou Marielle?

Não voltaremos para os porões da ditadura!

Não voltaremos para os fogões!

Não voltaremos para as senzalas!

Não voltaremos para os armários!

Silvana Conti é professora aposentada da Rede de Ensino de Porto Alegre, vice-presidenta da CTB-RS e membro da direção nacional da UBM.

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

 

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