Historiadores afirmam que a folia do Carnaval já corria solta já muito antes de Cristo, feita por camponeses para favorecerem suas colheitas. Nos dias de Carnaval, quase tudo era permitido, até a participação das mulheres.
Tamanha força adquiriu que a igreja Católica cooptou e adequou a folia ao seu calendário. Por isso, o Carnaval ocorre sempre no período anterior à Páscoa. Trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses, essa festa pagã ganhou feições brasileiras e se transformou numa paixão nacional assim como o futebol.
Começou elitista com os bailes de máscaras da corte portuguesa, mas ganhou as ruas e o imaginário popular. Veio a repressão contra os cordões de Carnaval, constituídos de negros e negras.
Cantada em prosa e verso, a magia do Carnaval consistia – e consiste – num tempo com predominância de uma certa igualdade e solidariedade, até se acabar na Quarta de Cinzas, quando os foliões purificam seus pecados. E aí tudo volta ao normal.
Mas não existe Carnaval igual ao do Brasil. O casamento com o samba – gênero musical genuinamente brasileiro – deu uma cara nova à festa que ganhou as ruas definitivamente com os blocos e as escolas de samba, que surgiram no Rio de Janeiro na década de 1920.
Não sem repressão e polêmicas. As escolas de samba se transformaram em grandes empreendimentos e o Carnaval carioca virou colossal, um espetáculo a céu aberto, que move comunidades o ano inteiro. Mais do que isso o Carnaval de Rua a cada ano cresce com muitos blocos levando milhões de foliões ás ruas.
A alegria e a irreverência do reinado de Momo – durante o Carnaval – trouxeram outra pérola, que só existe aqui: as marchinhas de Carnaval. A primeira foi “Ô Abre Alas”, composta por Chiquinha Gonzaga em 1909.
Mas o Brasil é gigante e a festa tem a suas nuances. Em Pernambuco casou com o frevo – outro gênero musical genuinamente brasileiro. Já Na Bahia surgem os trios elétricos, criados por Dodô e Osmar. Os trios elétricos atraem milhões de pessoas do mundo todo. Essas são festas que arrastam mais foliões no país.
Mas o nosso samba ainda é na rua, longe das festas de gala de uma elite carcomida. Contra tudo isso, milhões de foliões tomam as ruas para festejar. Mulheres, homens e homossexuais pulando e cantando para espantar os fantasmas da opressão.
Então, não dê bola para o que falam as más línguas, brinque, mas brinque com muito respeito. Sem assédio sexual e sem violência. Todas as pessoas querem brincar e voltar para casa sãs e salvas. A festa é de todas e todos.
Portanto, “Deixa a festa acabar, deixa o barco correr. Deixa o dia raiar”… (“Noite dos Mascarados”, de Chico Buarque).
Noite dos Mascarados, de Chico Buarque, num raro momento cantando com Elis Regina:
Marcos Aurélio Ruy é jornalista.
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