A Rede Globo decidiu afastar o apresentador do Jornal da Globo, William Waack, após viralizar na internet um vídeo com comentários racistas dele, enquanto esperava para entrevistar Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute, do Wilson Center, sobre a eleição norte-americana, no ano passado.
O vídeo mostra Waack xingando um motorista que insistia em buzinar enquanto ele esperava para entrar no ar. O apresentador fala ao entrevistado que o barulho é coisa de “preto” e mais nervoso ainda diz que “Você é um merda do cacete”. E complementa: “É preto”.
Assista o vídeo com comentários racistas de Waack:
Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) desconfia da atitude da emissora. “Será que a Globo não tinha conhecimento desse episódio, precisou vazar para a internet para tomarem uma atitude?”, questiona.
Para ela, esse vpideo, “mostra que o apresentador apenas sintetizou o racismo da Globo de forma explícita. Esse resquício da mentalidade escravocrata que insiste em permanecer em nossa sociedade”.
Dennis de Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, concorda com a sindicalista carioca. “Provavelmente se este comentário dele não tivesse sido gravado, ficaria tudo por isso mesmo”. Ele critica também a cobertura tímida da mídia burguesa ao fato. Eles “noticiaram cheio de dedos: ‘suposto’ ato de racismo”.
Veja o que disse a emissora no Jornal da Globo da quarta-feira (8):
“Inadmissível que esse senhor continue trabalhando como jornalista e possa influenciar milhares de pessoas todos os dias com seus comentários de desprezo por tudo o que temos de mais popular, como ele costuma fazer”, afirma Custódio. “Desta vez, Waack extrapolou todas as medidas da inteligência e do bom senso”.
Já Renata Mielli, jornalista e coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, analisa o estrondo desse vídeo na internet e conclui, em sua coluna na Mídia Ninja, que se “temos uma força importante que pode afastar um jornalista. Então temos força para barrar o golpe e muitas outras mudanças na nossa sociedade. Se de um lado é verdade que a intolerância, o preconceito e os machismos cresceram, também é verdade que há uma grande parcela da população que não aceita essa escalada conservadora”.
Acompanhe a análise de Renata Mielli:
Além disso, diz Oliveira, o comportamento de Waack “foi a exposição do raio-X do que pensa o jornalismo da Globo. Ele pode ser afastado, demitido. Mas a Globo continuará sendo a Globo”. Custódio emenda afirmando que “não é só a Globo, toda a mídia burguesa é racista”.
Ela diz ainda que Waack “esquece que se ele tem a condição de vida que tem, deve isso à falta de condição de vida que milhares de pessoas têm, todos pobres, quase todos negros, que no ano que vem reflitiremos sobre os 130 anos da Abolição dos escravos, mas ainda sofrem os efeitos do racismo institucional e das desigualdades perpetuadas por pensamentos retrógrados e arrogantes como os desse senhor”.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy