A jornalista Rosane Oliveira, anteontem, no Clic RBS: “Está completando 45 dias uma greve de professores e funcionários de escola que ninguém sabe qual é o tamanho exato nem consegue medir as consequências, porque o governo e o Cpers usam parâmetros diferentes para calcular a adesão”.
A pais e alunos, não interessa se a verdade está com o sindicato, que fala em 75% dos professores em greve, ou com o governo que fala em 35% das escolas paradas total ou parcialmente, embora seja difícil aceitar a versão de que não há como saber os números reais. À sociedade interessa discutir as consequências desse embate em que o aluno é marisco entre o mar e o rochedo.”
Comovente. A jornalista paga com alto soldo (não que, em tese, não o mereça, afinal quem trabalha merece boa remuneração), utiliza a velha fórmula de se sensibilizar aos alunos (e pais), sugerindo implicitamente os malefícios e transtornos de uma greve, sem denotar nenhuma crítica à política administrativa e salarial que levou ao desencadeamento da mesma.
Jogada sorrateira e costumaz do jornalismo baixo praticado pela RBS, busca equivaler os desiguais e subliminar as injustiças das danosas e recorrentes ações do Governo Sartori contra a Educação e seus profissionais, atingidos por uma convergente política de arrocho, atraso e parcelamentos de salários.
Ignora a jornalista, propositalmente, diga-se de passagem, todo o contexto que levou a greve e, pior, não lança uma única linha sobre a condução dada pelo Governo à situação.
Em nenhum momento há referência a instalação de uma mesa permanente de negociação, tampouco qualquer crítica às medidas autoritárias que incluem ameaças de corte de ponto e demissões, mudança do calendário letivo e o absurdo remanejo de alunos, à revelia da própria metodologia de matrículas que prevê o zoneamento conforme o local de moradia do estudante.
Nada é comentado sobre a negativa governamental em rever incentivos fiscais contestáveis (afinal, não são exigidas contrapartidas como manutenção e ampliação de vagas de trabalho), nem mesmo quanto ao ressarcimento das perdas da Lei Kandir (situação nova aberta depois do posicionamento dado pelo STF no julgamento do caso de Minas Gerais).
À bem da verdade, não há quem mais se preocupe com o presente e o futuro da Educação e dos estudantes do que nós, educadores. É justamente por tê-los na mais alta consideração e estima que lutamos. Não aceitamos a Emenda Constitucional que congela o orçamento público por 20 anos; não concordamos com uma Reforma do Ensino Médio que deteriora a qualidade do ensino; não temos acordo com uma Base Nacional Curricular Comum que restringe a gama de conhecimentos oferecida aos educandos; não apoiamos a retirada de recursos garantidos pela Lei que prevê o repasse dos ganhos da exploração do pré-sal à Educação; não admitimos a censura à liberdade e criticidade pedagógica promovida pelo nefasto movimento Escola Sem Partido; não nos representa Alexandre Frota como consultor do MEC e Ronald Krummenauer, da famigerada Agenda 2020, à frente da Secretaria da Educação.
Se fosse adepta de um jornalismo limpo e preocupado com a verdade dos fatos, a colunista certamente consideraria as questões acima elencadas e assumiria uma posição exigente em relação ao trato governamental. Pena que se propôs a fazer demagogia barata e manipulação midiática, atitudes que tristemente lembram as práticas do MBL ou de seus antecessores na editoria política da RBS. Acabou por vestir a ridícula fantasia de tatuíra, tsc, tsc.
Alex Saratt – 32º núcleo Cpers/Taquara
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