No último dia 21 de setembro, o vídeo “Afronte Negra”, produzido pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro-MG) foi premiado durante evento organizado pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC-Rio) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, para a ocasião do Dia Internacional da Paz. O trabalho foi um dos três vencedores do 1º Concurso de vídeo da ONU Nelson Mandela, que selecionou os melhores trabalhos com o tema “A luta contra a pobreza é uma questão de justiça. Não é um gesto de caridade”.
Os filmes foram escolhidos por um júri composto pelo alto funcionário da ONU aposentado Manuel de Almeida; pela professora de cinema da PUC-Rio, Patrícia Machado; pela assistente social e diretora do IBASE, Rita Brandão; pelo crítico de cinema e doutor em Meios e Processos Audiovisuais Sérgio Rizzo; e pelo ator e cineasta Werner Schünemann.
Os cineastas receberam a homenagem após exibição dos filmes na principal sala de cinema do CCBB, com a presença de representantes das Nações Unidas e de membros do júri.
Confira aqui a matéria da UNIC-Rio.
“Afronte Negra”
O vídeo produzido pelo Sinpro-MG traz reflexões, por meio de uma linguagem poética, sobre o histórico de injustiças e o horizonte de resistência que demarcam as vidas das mulheres negras.
A produção audiovisual buscou valorizar a participação das mulheres negras do próprio sindicato, propondo uma reflexão em torno do protagonismo e visibilidade cotidiana. Camila Gamallo, Maria da Silva, Liliana Rosa, Keity Cláudio, Luciene Ferreira, Edna Vital e Tatiana Maria ocuparam um novo lugar e seus rostos, gestos e expressões foram essenciais para a construção da narrativa.
A produção conta também com a participação da atriz Hérlen Romão e da poeta Nívea Sabino. O depoimento que conduz o vídeo é da professora e diretora do Sinpro Minas, Ângela Gomes. Para Ângela, o vídeo tem uma importância simbólica de enfrentamento à estética totalitária de base eurocêntrica presente na mídia. Ela ressalta que essa estética tem como consequência uma produção de violência simbólica que se traduz na ausência do corpo das mulheres negras e do território de direitos delas. “O vídeo também dá visibilidade ao feminismo negro como processo emancipatório a partir das matrizes africanas. Enfrenta e coloca as belezas em todos os seus tempos, reforçando como humanas que somos, o direito de ser mulher”, afirma.
A jornalista do Sinpro Minas, Carina Santos, que realizou a direção do vídeo, representou a equipe no recebimento do prêmio. No evento, ela ressaltou a importância do vídeo para a desconstrução permanente das opressões históricas e destacou que em momentos de duros golpes contra a educação, produções como essa reforçam a necessidade de contarmos a história a partir de uma perspectiva crítica. “O audiovisual é uma chance de apostar no sensível, no simples, de olhar para o nosso lado e de tentar contar essas histórias. E tentar construir esse protagonismo”, declarou. O vídeo “Afronte Negra” é uma produção coletiva de toda equipe de Comunicação do Sinpro Minas e da Agência Movimento.
Confira abaixo o depoimento de todas as mulheres trabalhadoras do Sinpro-MG que participaram do vídeo:
Camila Gamallo:
Achei muito importante a iniciativa, saber que o Sindicato deu atenção à questão racial. Somos negras e nos vemos pouco representadas. O vídeo cumpre a função de dar essa visibilidade. Muitas vezes no próprio ambiente de trabalho convivemos com muitas brincadeiras, comentários preconceituosos e é bom saber que as pessoas aprendem a nos olhar de uma forma diferente. Muito orgulho em me ver como eu sou e me ver para além, por aqui eu estou representando todas as mulheres negras.
Maria da Silva:
Às vezes pela nossa cor de pele, somos excluídas. E nos sentimos oprimidas, escondidas. Então eu me senti muito importante participando do vídeo, levantou minha autoestima, me vi linda e maravilhosa! Que bom que hoje as mulheres negras estão tendo mais oportunidades, estão se expressando mais. Viva as mulheres negras do Brasil!
Liliana Rosa:
Ainda existe muito preconceito com nós que somos negras. Algumas vezes já vi pessoas brancas me olhando de cima a baixo, é comum falarem que temos cabelo ruim, da nossa cor, essas coisas. Com o vídeo eu me senti valorizada. Me senti mais bonita, mais mulher.
Keity Cláudio:
De pronto agradeço pelo convite e parabenizo a equipe pela excelente produção e premiação! Foi uma experiência que me despertou a curiosidade em sua elaboração, mas me surpreendeu e emocionou depois de vê-lo pronto! Considero uma honra fazer parte do grupo de mulheres negras independentes, apesar de todas as adversidades que sabemos ainda existir em nosso “estado democrático”.
Luciene Ferreira:
Me senti lisonjeada por participar do vídeo representado as mulheres negras do Brasil. Não somos escravas, nem objeto. Somos mulheres negras, fortes, lindas e livres.
Edna Vital:
Me senti privilegiada, feliz e orgulhosa por participar deste vídeo e pela vitória. Somos mulheres, somos fortes, somos lindas, somos negras!
Tatiana Maria:
É comum as pessoas nos verem e não enxergar a gente, nem saber quem somos, nosso nome. No começo, nem queria participar, porque não sentia que eu era reconhecida. Mas fui lá e fiz. Senti que mudou a forma como nos enxergam. Gostei de me ver ali, me achei bonita, especial. Me valorizo!
Confira o vídeo premiado:
Confira a reportagem realizada pela UNIC Rio sobre o prêmio:
Fonte: Sinpro-MG