A cantora e compositora paraense Railídia Carvalho, que adotou São Paulo, lança o seu primeiro disco Cangalha em Belém do Pará nesta sexta-feira (15). Ela se apresenta no Teatro Waldemar Henrique, às 19h30, e garante um show que mostra o Brasil contemporâneo com as músicas da raiz cultural do país.
Na estrada desde 1999, levando para os palcos a diversidade musical brasileira, Railídia, que também é jornalista do Portal Vermelho, disse à colega Mariana Serafini que está criando um show que tem diversos timbres: “Esse batuque do Brasil, coisas do Pará, os sambas dos meus contemporâneos, composições nossas”.
De acordo com a cantora, o lançamento no Pará ocorre porque o seu disco está impregnado da sonoridade de Belém, onde a musicalidade está à flor da pele e a mistura de gêneros musicais domina a cena.
Ela conta que apenas em 2009 começou a “achar que poderia ter uma carreira como cantora”. Em 2012 conheceu o violonista Paulo Godoy e “começamos a montar o grupo do CD”.
A integrante do grupo Inimigos do Batente, afirma que “a roda de samba da qual faço parte até hoje foi a minha escola. O grupo se apresenta há 13 anos no bar Ó do Borogodó, na capital paulista. “Foi onde consolidei o meu repertório e me formei como cantora”.
Railídia Carvalho fala sobre o seu amor pelo Pará
Ela conta também que “em 1999 começamos uma roda de samba no Bar do Cidão chamada 33 Palitos porque se dizia que o Cyro Monteiro afirmava que a caixa para estar afinada precisava de 33 palitos”.
Em 2003 o grupo passou por mudanças na formação e começa a se apresentar no Centro Esportivo Raul Tabajara, na Barra Funda, a convite da União Nacional dos Estudantes (UNE) e aí surgiu o Inimigos do Batente.
Segundo Railídia, o seu primeiro álbum traz o DNA do Pará, apesar de já estar morando há 20 anos na capital paulista. Tem batuque amazônico como o marabaixo, referências do carimbó, tem boi bumbá. As expressões afrobrasileiras estão muito presentes.
Ela escolheu cantar os gêneros musicais de raiz africana porque “na verdade acho que é cantar os nossos ancestrais. É a música que mais me emociona porque ela nasce de uma situação de violência, preconceito, escravidão e extermínio desses povos e de sua cultura”.
Ouça a canção Cangalha (Douglas Germano e Railídia Carvalho)
Railídia complementou que a resistência cultural na tradição afro-basileira é o que comove e Cangalha fala sobre isso. “Mesmo de uma situação de opressão, nasce essa música linda, vem os batuques, o samba, a música religiosa, muitas das manifestações populares”.
Como a canção Cangalha, que é um Ijexá, que é uma nação africana formada pelos escravizados vindos de Ilesa na Nigéria, atualmente é ritmo musical presente nos afoxés.
Acompanhe Ô Linda (tradicional)
Acompanhada pelos músicos Paulo Godoy (violino), Felipe Siles (piano e sax), Helinho Guadalupe (cavaquinho), Koka Pereira (percussão) e Tiago Belém (bateria). O disco traz composições autorais, sambas, marabaixo, bumbá, marcha-rancho e outras influências da cultura popular, entre elas a religiosidade afro-brasileira. A produção musical é de André Magalhães (Estúdio Zabumba e A Barca) e produção executiva de Stefânia Gola (Ó produções).
Em um trabalho colaborativo, o cenário está sendo realizado por alunos da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará, orientados pelo professor Jorge Torres e pelo professor e diretor de teatro Marton Maués. Na idealização e montagem do cenário participam Cássia Rejane, Jean Cardoso, Humberto Malaquias e Roseane La Roque.
A cantora garante não gostar de viver a rotina. O que transparece na música título de seu primeiro disco. “De rotina me acabo/dou cabo de mim/quem é que vive assim?/e quem merece, enfim?”, mas, “enxergo além da muralha/que a vida não é só batalha/meu peito é a minha cangalha/pra eu carregar”.
Que todos carreguem a sua cangalha com tanto talento.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy. foto: Clécio Almeida