“Nosso comandante não está morto porque o nosso povo o tem vivo em nossos corações”, diz Blanca Josefina Fernández, que conta ter aprendido a ler e a escrever através da Missão Robinson, programa social do governo do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013), que erradicou o analfabetismo no país no ano de 2005.
Manifestantes lotam as ruas de Caracas em defesa da Constituinte
Em meio à tensão que tomou a Venezuela nos últimos tempos por causa da realização da Assembleia Constituinte, o país teve uma trégua nesta sexta-feira (28), para homenagear aquele que deu origem ao processo político denominado Revolução Bolivariana. Hugo Rafael Chávez Frias, ou simplesmente Chávez, completaria 63 anos nesta sexta-feira, não houvesse partido prematuramente, por consequência de um severo câncer, no dia 5 de março de 2013.
Nesta sexta-feira, Blanca Josefina Fernández, assim como milhares de venezuelanos compareceram ao Cuartel de la Montaña, ou Quartel da Montanha, onde descansam os restos mortais do ex-presidente.
O lugar tem história: localizado no popular bairro 23 de Enero e a escassos metros do Palácio de Miraflores, foi de lá que o então tenente-coronel Hugo Chávez organizou e liderou uma tentativa fracassada de golpe de Estado em 1992 contra o governo neoliberal de Carlos Andrés Pérez. Naquele momento, reconheceu a responsabilidade sobre o movimento insurgente e proferiu palavras que ficariam marcadas na memória do povo venezuelano: “Por agora, não foi possível cumprir a missão”.
Contam os venezuelanos que aquele “por agora” teria sido a faísca de um movimento político democrático que transformaria para sempre a história do país, que tem as maiores reservas de petróleo do mundo e, naquele momento, uma das mais altas brechas sociais do continente.
Seis anos depois, o que parecia impossível se tornou realidade: Hugo Chávez, indultado pelo então presidente Rafael Caldera, era eleito presidente da República que, a partir de um processo constituinte, se transformaria na República Bolivariana da Venezuela.
“Juro, perante Deus, a Pátria e meu povo que, sobre esta moribunda Constituição, farei cumprir e promoverei as transformações democráticas necessárias para que a República tenha uma Carta Magna adequada para os novos tempos”, disse Chávez em seu primeiro juramento como chefe do poder executivo.
E assim o fez: transformou não só a Constituição da Venezuela, como a realidade do seu povo. Levou o país a ser considerado, em 2012, pelo índice Gini, do Banco Mundial, como o país menos desigual da América Latina.
A equipe do Brasil de Fato em Caracas conversou com diversos venezuelanos a respeito do legado do ex-mandatário. Confira:
Hoje, seu rosto está por todas as partes nos muros de Caracas, sobretudo nos numerosos bairros populares que tanto se beneficiaram das políticas socialistas inauguradas por ele.
“Nosso comandante foi embora muito cedo, mas nos deixou Nicolás Maduro, que está dando continuidade ao que ele nos fez. Chávez vive sempre e a cada dia se multiplica”, disse Mercedes Olarte, membro do Comitê de Familiares e Amigos do 4 de Fevereiro, e que, por isso, conheceu de perto o ex-presidente.
Às vésperas da votação da Assembleia Nacional Constituinte, Olarte diz sentir a energia de Chávez na resistência do povo venezuelano para manter de pé o projeto revolucionário inaugurado por ele: “O melhor presente que vamos dar a ele pelo seu aniversário será uma grande votação nesse domingo. Porque se nós perdemos a Venezuela, perderemos toda a América Latina”.
De Caracas, Venezuela
Leonardo Fernandes para o Brasil de Fato