Nenhum um ser que se torna verdadeiramente humano quer conviver com um objeto ao seu lado.
O primeiro ser a sofrer a escravidão na história da humanidade foram as mulheres (Bebel{1879}),mesmo antes do sistema explorar todos(as), dela se tornou fundamento de um meio de produção. O sistema patriarcal tem sua consolidação histórica associada a propriedade privada, diferente do que prega a ideologia da subordinação da mulher, os homens tiveram que lutar cerca de dois milênios para consolidá-lo como tal. A primeira experiência histórica de luta pela liberdade da mulher e de toda a humanidade, foram as mulheres na Comuna de Paris, ” três mil mulheres do Comitê para Defesa de Paris, em sua maioria trabalhadoras ocuparam postos de barricadas, mesmo que não tenham alcançado a importância histórica da experiência da Revolução Russa.
Iniciar o debate da extinção da sociedade patriarcal sem compreender o papel da família nessa sustentação, é perder em divagações e esquecer o ponto nevrálgico da escravidão da mulher que levará as(os) trabalhadoras(res) a necessidade de destruir as velhas concepções da sociedade fundamentadas no sistema de exploração e exclusão no antigo e atual sistema capitalista escravocta. Conhecer seus mecanismos e meios de produção e reprodução, é uma tarefa revolucionária que teremos de nos debruçar. Verificar acertos e erros das grandes batalhas que a humanidade trava para sustentar e erigir um sistema baseado na oportunidades de igualdade para todos(as), iniciado nas experiências socialistas é a grande tarefa do movimento femisista emancipacionista.
A origem do termo família encontramos no latim, famulus, que significa ¨conjunto de servos e dependentes de um chefe ou senhor¨, ou seja, conjunto de terras, de escravos, casas, de mulheres e crianças submissos ao poder(sinônimo de pai de família). Uma das funções da família patriarcal é perpetuar essa divisão desigual entre homens e mulheres de uma geração a outra, por meio da herança, ideologia, das instituições como a igreja, a política as leis, a força e as prisões. Ela foi criada para ser sustentáculo maior dessa organização, mas para se fixar, precisava contar com um(a) provedor(a) para desbravar a natureza e acumular as riqueza conquistadas dentro desse cerco. A quem caberia cuidar da comida, casa, filhos e herança nessa organização? Para se destinaria? Que herança é essa que continuamos sustentando e repassando a gerações excluindo milhares de seres da Terra de usufruírem o direito de viver uma vida plena,de realizações, trabalho criativo e ideais, não sendo apenas objeto de manipulação?
Algumas questões que precisamos conhecer e aprofundar para desmistificar e destruir o sistema de escravidão na maioria dos países do mundo e especificamente no Brasil. Desde a sua consolidação, para acumular e defender a herança na família patriarcal, a mulher foi e ainda o é, prisioneira maior desse sistema. Dentro dele, ela permanece até hoje sendo excluídas dos maiores cargos da política, postos de trabalhos de altas tecnologias, literatura, das produções artísticas no geral. Ganha salários inferiores aos dos homens com funções e competências iguais, responsabilizadas pela educação das crianças, idosos e pacientes doentes. Nas grandes crises do capitalismo ela quem paga os maiores preços. Obrigadas e exigidas de cumprirem obrigações conjugais, mesmo sem interesse e vontade, ser mães. É isso é repassado como se fosse uma coisa natural, incapaz de haver mudanças.
Longe de negar as transformações que a entrada da mulher no mercado de trabalho impulsionada pelas máquinas na antiga e atual sociedade capitalista, hoje de alta tecnologias, afetaram a configuração da família nuclear nesses séculos, mas o objetivo de nada mudou, escravidão, acúmulo de riquezas da classe exploradora e perpetuação da ordem vigente. Na atualidade com profunda divisão no mundo do trabalho, segrega cada vez mais as mulheres por sexo, raça, por assédio moral, através de piadas e tratos humilhantes onde estamos inseridas. No Brasil, a família patriarcal que é difundida como lugar de paz e aconchego, a cada 11 minutos uma mulher é estrupada ou morta dentro dos lares e nas ruas. (fonte, Mapa da Violência- Homicídio de mulheres).
Mas o que fazer para mudar essa realidade hoje? Que caminhos devemos percorrer para alcançarmos uma sociedade onde a total destruição dessa engrenagem seja abolida e as mulheres participem ativamente em condições de igualdade de decidir em todas as esferas da sociedade? O que fazer para que as mulheres deixem de ser objetos de manipulação e possam viver e escolher como seres livres, criativos e capazes?
Temos um legado de experiências recente na nação, mesmo em curtos períodos de democracia, onde foi possível através dos movimentos de protestos e mudanças no mundo contra a ordem capitalista vigente, possibilitar na América Latina através da formação de blocos e Frentes Amplas elegermos representantes democráticos e, pela primeira vez no Brasil um Presidente da República oriundo da classe Operária, Luís Inácio Lula da Silva e também pela primeira vez, uma Mulher na história da República Dilma Rousself, afastada recentemente através de um Golpe. Ambos comprometidos em defender o povo e a nação, mostrou ser possível através de políticas públicas, dividir mesmo que parcos, os recursos de riquezas produzidos pela classe trabalhadora aos menos desfavorecidos nas áreas da saúde, educação, tecnologia nacional, crédito para mulheres, moradia, incorporação, reconhecimento e capacidade das mulheres nesses diversos postos para encaminha-las e implementá-las.
No entanto, não tocaram na questão estrutural da extinção do regime capitalista patriarcal escravocata, o que possibilitou fôlego para os grandes capitalistas mundiais e nacional retornarem com mais agressividade sobre os povos, as mulheres e a classe trabalhadora.
As mulheres feministas emancipacionistas, tem como base o materialismo histórico dialético, por isso tem a clareza de que a libertação geral da humanidade não acontecerá sem a destruição total desse sistema de produção e reprodução de valores. E que a luta acontece de forma organizada, com o fortalecimento dos movimentos sindicais, sociais, mulheres, juventude, partidos e setores democráticos, que sonham com uma nação livre e igualitária para todo(as).
Acredito no caminho onde seguiremos através do aprofundamento nos estudos para tirar lições dos acertos e erros das lutas dos povos e do país, com a clareza de objetivos, táticas e estratégias nas ações. Participação com intervenções qualificadas, radicalidade necessárias nessas diversas frentes de lutas. Essa é uma grande tarefa revolucionária do movimento feminista na atualidade no Brasil.
Maria Aparecida Tavares é professora da rede Municipal de Natal (RN). Escreve crônicas, é cantora de samba e membro do Conselho Fiscal da CTB-RN
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