Romance inédito de Ariano Suassuna será publicado em novembro

“Minha [obra] predileta é aquela na qual eu expressei, do modo menos incompleto que me é possível, meu universo interior”. Assim o escritor Ariano Suassuna, que faria 90 anos nesta sexta-feira (16), definiu seu Romance d’A pedra do reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta (1971), em entrevista à Revista Continente, em 2006.

O romance, que acaba de ser reeditado pela Nova Fronteira, inicia o projeto da editora de republicar todos os livros de Suassuna. No próximo mês será lançada a peça O santo e a porca (1957) e, em novembro, o inédito Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores.

Dividido em dois volumes – O jumento sedutor e O palhaço tetrafônico – o romance pode ser considerado “o coroamento da obra de Suassuna”, na opinião do amigo do escritor e professor da UFPE Carlos Newton Jr: “É uma romance que revisita toda obra de Ariano a partir da narrativa de Dom Pantero. Uma espécie de súmula do que ele escreveu, em que ele acaba reavaliando sua própria obra – teatro, poesia, romance”, explica.

É o protagonista Antero Savreda – nome verdadeiro de D. Pantero –, que ministra ‘aulas espetaculosas’ com ensinamentos e encenações, nas quais revisita obras e personagens de Suassuna. Escritor frustrado, Savreda sonha em fazer uma grande obra a partir do sucesso literário de seus irmãos famosos: Auro Shapino, romancista, Adriel Soares, dramaturgo, e Altinho Soares, poeta.

“Os nomes são sempre com A e S, que dizer, é como se Ariano pegasse aquelas múltiplas personagens artísticas dele – poeta, dramaturgo e romancista – e separasse isso em heterônimos. Pantero é seu heterônimo maior, que ministra as mesmas aulas-espetáculos que ele fazia em todo o Brasil”, afirma Newton Jr., que conheceu Suassuna na década de 1980.

Ilumiara

Nascido em João Pessoa em 16 de junho de 1927, Suassuna pretendia construir um universo único por meio de um embaralhar de auto-referências, conceito que chamou de “ilumiara”. Isso explica, por exemplo, porque mudou o nome de dois personagens d’A pedra do reino (1971) para João Grilo e Chicó – eles já apareciam em Auto da compadecida, de 1955. Ou porque alterou também o subtítulo d’A pedra do reino de “Romance armorial popular brasileiro” para “Introdução ao Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores”.

O lançamento do Romance de Dom Pantero marca a conclusão deste projeto único, afirma Newton: “Sua obra máxima é o próprio conjunto da obra, porque todas acabam se complementando, formando um grande conjunto. Embora os romances e peças possam ser vistas separadamente, o que ele quis enfatizar é que elas compõe uma obra total, composta por seu universo único”.

O pesquisador chama ainda atenção para o aspecto “pós-moderno” do romance, que já traz em seu subtítulo a mistura de gêneros: “Autobiografia musical, dançarina, poética, teatral e vídeo-cinematográfica”. Junto do livro, haverá um DVD com gravações das aulas-espetáculo de Suassuna, além das ilustrações que o escritor fazia para acompanhar e interagir com praticamente cada página do texto.

Essas características explicam o perfeccionismo do autor em finalizar a sua obra, escrita e reescrita diversas vezes ao longo de 33 anos – de 1981 até sua morte, em 23 de julho de 2014. O manuscrito do romance inédito estava guardado no escritório de Suassuna, e foi localizado por sua família, que então reunia sua obra para ser negociada com uma nova editora.

Entre os textos encontrados estão as peças inéditas em livro As conchambranças de Quaderna (1987) e Auto de João da Cruz (1950). Há também os romances O sedutor do sertão (1966), ainda inédito, e As infâncias de Quaderna. Ainda não há previsão de lançamento.

Fonte: Revista Cult, por Paulo Henrique Pompermaier (Foto: Paulo Sérgio Sales/SEI)

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