“Brasília assustada com as revelações do jornal O Globo”. Essa foi uma das frases de efeito ditas por Willian Bonner durante a edição desta quarta-feira, 17/05, dia em que as Organizações Globo detonaram uma bomba que vai derrubar mais um presidente da República no Brasil – golpista, mas presidente.
A denúncia de que Michel Temer foi gravado pelo executivo da JBS, Joesley Batista, dando aval para comprar o silêncio de Eduardo Cunha colocou um ponto final no mandato do golpista Michel Temer. Partidos da base do governo, parlamentares e muitos expoentes da direita, incluindo articulistas da Rede Globo, afirmam com convicção que não há mais condições de Temer permanecer na Presidência.
Tudo começou por volta das 19:00 hs, com a reportagem do jornalista Lauro Jardim publicada no site do O Globo. Praticamente na mesma hora, entra um Plantão na programação da Globo para dar o furo e chamar a audiência para o Jornal Nacional.
O misto de perplexidade, indignação e comemoração que tomou conta das redes sociais pode ser ilustrado pela frase “A Casa Caiu”.
A gente tira o Temer e depois……
…Depois elege um novo presidente por eleição indireta. Pelo menos este é o desejo da Rede Globo, que já colocou seu exército de lobotomizadores para martelar no rádio, na internet, na TV aberta e fechada que, em caso de vacância da presidência nas condições de hoje, a diretriz constitucional prevista no artigo 81 é a eleição indireta. Falam abertamente que a eleição direta é inconstitucional.
Golpe Jurídico-Midiático
A caracterização de que o Brasil é alvo de um golpe jurídico-midiático se reforça. Temer passou a ser um obstáculo aos objetivos políticos e econômicos dos setores que financiaram o golpe. Passado um ano do impeachment, o país está mergulhado numa grave crise econômica, o desemprego é recorde e o presidente ostenta o índice de 61% de ruim e péssimo, segundo avaliação do Data Folha. Como dar continuidade à agenda das reformas neoliberais, de retirada de direitos neste cenário? Como manter o apoio ao golpe e à Lava Jato com um governo enlameado, citado diretamente nas delações, sem qualquer credibilidade?
A aliança mídia-judiciário se aprofunda e não vacila em fazer o que precisa ser feito, doa a quem doer. Nada disso é em nome da democracia, ou da ética, ou da luta contra a corrupção. É um passo no sentido de aprofundar o golpe.
Diretas Já!
A denúncia contra Temer abre mais um capítulo de imprevisibilidade na conjuntura política.
Apesar dos objetivos explícitos da Rede Globo, a sociedade brasileira não pode permitir que um parlamento desmoralizado por denúncias de corrupção eleja, em colégio eleitoral, um novo presidente da República. Este é o momento de sair às ruas para exigir que o povo tenha garantido o seu direito ao voto.
E como diz o ditado: as crises abrem janelas de oportunidade. Temos que construir um amplo arco de alianças para enfrentar o arbítrio.
Fora Globo
O papel político que a Globo, acompanhada pelo restante da mídia hegemônica, tem cumprido no país é totalmente incompatível com a democracia.
É urgente ampliar o debate sobre a democratização da comunicação no Brasil. Já passou da hora de este tema ocupar lugar prioritário na agenda do movimento social. Sem enfrentar o monopólio privado dos meios de comunicação não é possível garantir direitos sociais, trabalhistas, a soberania nacional e, principalmente, não é possível construir um país democrático.
Não podemos continuar a ser uma nação que é dominada por uma emissora de televisão. É hora de dizer um basta a este monopólio.
A palavra de ordem #ForaGlobo representa muito mais do que um grito contra a emissora dos Marinho, ela condensa a indignação de quem não suporta mais ser manipulado por um discurso único. Ela representa a luta de quem quer ter voz, ter rosto, ter visibilidade nos meios de comunicação do seu país.
Vamos todos às ruas e às redes disputar os rumos do nosso país e lutar pelas eleições diretas.
Renata Mielli é jornalista, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Artigo originalmente publicado em sua coluna na Mídia Ninja.
Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.