Nota prévia: Texto adaptado do discurso feito pelo autor na reunião do Secretariado da Federação Sindical Mundial (FSM), ocorrida nos dias 3 e 4 de maio, em Havana (Cuba).
Bom dia a todos e todas. Gostaria de saudar a todos da mesa, em especial o secretário-geral da FSM, George Mavrikos. Gostaria também, antes de iniciar minha fala, de lamentar em caráter oficial o falecimento do Comandante Fidel Castro Ruz, ocorrido no último dia 25 de novembro. Esta é a primeira reunião da UIS Metal e Mineração em território cubano e não poderia deixar de fazer esse registro, em uma modesta homenagem ao nosso histórico líder.
Gostaria, neste espaço, de falar a respeito de três pontos que considero fundamentais neste momento: a atual conjuntura internacional, a situação do Brasil e a luta dos metalúrgicos e mineiros em meio à atual crise.
A crise internacional ganha novos contornos a partir das recentes eleições nos Estados Unidos e Europa, da guerra na Síria, da tensão na Península das Coreias, da crise dos refugiados e da ação imperialista em nações da América do Sul, com destaque para o Brasil e a Venezuela. Percebe-se que o imperialismo e o sistema financeiro aproveitaram a grave crise econômica iniciada há cerca de 10 anos para aprimorar seu ideário de caráter neoliberal.
Os números mais recentes mostram o aumento do desemprego, da desigualdade e de tragédias sociais em todos os continentes.
É a classe trabalhadora que vem pagando a conta pela crise criada pelo sistema capitalista. A cada ano torna-se mais clara a estratégia das multinacionais e dos grandes conglomerados financeiros: retirar direitos sociais consagrados, obrigar as nações a adotar políticas de austeridade e reagir com violência perante os protestos e manifestações da classe trabalhadora.
A conjuntura é, de fato, muito complexa. A unidade de ação, a luta, o internacionalismo e a solidariedade entre a classe trabalhadora são preceitos fundamentais para o enfrentamento a esse cenário.
Represento aqui uma entidade de abrangência mundial, a UIS Metal e Mineração (UISMM), mas na condição de sindicalista brasileiro me vejo na obrigação de compartilhar com os camaradas aqui presentes um breve relato da situação de nosso país. O Brasil passou por um golpe de Estado em 2016. O governo ilegítimo que assumiu o poder tem agido com muita rapidez no sentido de destruir direitos históricos da classe trabalhadora, entre eles a aposentadoria e os direitos trabalhistas de nosso povo.
Temos visto também uma grande onda de criminalização dos movimentos sociais, sindicais e populares. Confirma-se, a cada ação truculenta do governo, que a democracia brasileira foi colocada em xeque desde 2016, com o impedimento da presidenta Dilma Rousseff, sem qualquer crime de responsabilidade. Em seu lugar, além de um presidente ilegítimo e golpista, foi colocado um grupo altamente criminoso, envolvido há décadas em negociações corruptas, e que agora se veem protegidos pelo aparato do Estado em relação aos crimes que cometeram no passado.
Percebemos hoje que aos poucos o povo brasileiro se dá conta do golpe parlamentar, jurídico e midiático que ocorreu sob seus olhos. Na última sexta-feira, 28 de abril, assistimos à maior greve geral de toda a história de nosso país. Milhões foram às ruas para protestar contra as propostas antipopulares do atual governo, demonstrando que haverá uma forte reação caso a democracia não seja restabelecida em breve.
Nessa conjuntura, não posso deixar aqui de mencionar a luta das duas categorias que represento: os metalúrgicos e mineiros. O cenário para nós também tem se demonstrado muito complexo. Há demissões em excesso por todos os continentes, além de rebaixamento de salários e precarização.
Práticas antissindicais são recorrentes em dezenas de multinacionais, inclusive com assassinatos de metalúrgicos e mineiros.
Notamos também, como consequência da atual crise, que nações que ousaram desenvolver seus parques industriais têm sofrido retaliações de diversas multinacionais e do imperialismo estadunidense. Esse componente torna o cenário ainda mais complexo, exigindo da classe trabalhadora um nível de organização mais elevado.
O papel da FSM, nessa conjuntura complexa, é mais do que nunca fundamental para defender os interesses da classe trabalhadora. Temos uma grande responsabilidade e precisamos trazer os povos de todo o mundo para essa luta.
Viva a classe trabalhadora de todo o mundo!
Viva a Revolução Cubana!
Viva a Federação Sindical Mundial!
Francisco Sousa
Francisco Sousa é secretário-geral da União Internacional dos Sindicatos de Metalurgia e Mineração (UIS-MM) e secretário de Relações Internacionais da FITMetal
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