“A crise consiste, precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer” – Antônio Gramsci
O Fórum Social da Resistência, ocorrido em Porto Alegre entre os dias 17 a 21 de janeiro, teve como tônica a palavra de ordem ‘Resistir e lutar’.Diversas organizações de militância social estiveram presentes neste evento para denunciar o golpe em curso no País e levantar as bandeiras de resistência.
O momento político que estamos atravessando é de grandes incertezas. Está ocorrendo uma fusão da classe política com a classe financeira e essa fusão leva à morte da política, devido às imposições da classe financeira sobre os estados nacionais.
Hoje, 67 homens e 8 mulheres detêm a metade da riqueza do mundo. Pouquíssimas famílias controlam o sistema e cada vez mais impõem os seus interesses, numa depreciação dos direitos que duramente avançaram nas últimas décadas.
A intervenção militar em outros países aumentou drasticamente no último período, motivada, exclusivamente, pelos interesses econômicos de grande conglomerados que querem garantir o controle estratégico dos recursos naturais.
A partir de 2011 houve insurreições em mais de 11 países. Começou pela Tunísia e se expandiu para todas as partes do mundo. O questionamento da velha ordem colidiu de frente com os interesses da classe financeira e a história nos mostra que sempre que há revoluções, ocorrem também, movimentos contrarrevolucionários. E esses movimentos são sempre de extrema direita. A médio prazo, nada está definido. A batalha principal é a luta pela hegemonia cultural.
Nas últimas décadas, demos início a revoluções inacabadas que, gradativamente, criaram feições de um novo mundo que quer nascer, mas que o velho mundo, que está morrendo, não permite.
A revolução dos direitos das mulheres colocou em xeque a sociedade patriarcal, que insiste em prevalecer. Em várias partes do mundo, o patriarcalismo está presente e as mulheres necessitam avançar na conquista dos seus direitos, no sentido de diminuir o abismo entre gêneros.
Outra revolução inacabada é a dos direitos dos povos. Iniciada com a descolonização e a libertação dos povos, possibilitou a construção do conceito de soberania nacional, questionada, amplamente, pelas forças imperialistas que atuam no mundo.
A revolução digital e das comunicações apareceu como uma nova ameaça à cultura hegemônica predominante no mundo. Ou seja, a internet aparece como alternativa contra as comunicações de massa, possibilitando assim a criação de uma cultura de questionamento da ordem existente.
E por fim, a revolução dos povos no planeta. As migrações e o direito do livre trânsito entre os povos se apresentam como uma ameaça aos países do primeiro mundo, despertando um sentimento xenofóbico entre as populações dessas nações.
Nós não estamos inerentes a essa onda reacionária que assola o mundo. As forças do capital tinham que barrar os avanços sociais e políticos que assinalavam acontecer no Brasil. Os interesses imperialistas estão por trás do golpe. E o golpe tem que ser completo. O desmonte dos direitos sociais avançou sobre os que mais precisam. Avançará sobre a saúde, a educação, a previdência e sobre os direitos de organizações. Sindicatos e movimentos sociais estão a um passo do desaparecimento e marginalização. Aproveitando-se de um sentimento de ódio que tomou conta do País, os golpistas estão fazendo mudanças no Estado, que nos levarão ao aprofundamento do abismo social entre pobres e ricos.
Por isso, a necessidade da resistência. Não podemos abrandar. É a resistência dos povos que dará fim ao velho, possibilitando o nascimento do novo.
Paulo José Nobre é diretor do Sinpro Campinas e Região e secretário-geral da CTB-SP
Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor