O ano de 2016 já tem lugar garantido na história de nossa jovem nação. Será registrado nos livros como o ano em que as forças conservadoras depuseram a 1ª mulher eleita presidenta do Brasil por meio de um golpe legislativo.
Mas poderá também ser registrado, a depender da ótica que se queira analisar, como o ano em que dois presidentes foram depostos, naturalmente por razões distintas, pois, na prática o “governo” de Michel Temer já acabou.
E não é apenas pelo volume de corrupção praticado pela cúpula de seu “governo”, incluindo ele próprio, segundo os delatores da construtora Odebrecht. Suas dificuldades vão além disso.
1. Está na baixíssima popularidade do presidente que, se nunca existiu, agora chegou ao nível crítico;
2. Na percepção popular, cada vez mais evidente, de que foi vítima de uma fraude, na qual lhe prometeram uma solução mágica para os problemas do país tão logo a presidenta Dilma fosse afastada e agora lhe apresentam uma fatura impagável;
3. No desastre da economia que, além de não apresentar sinais de recuperação, indica sintomas de grave aprofundamento da crise econômica, incluindo a falência dos estados e uma legião de 12 milhões de desempregados;
4. E, principalmente, pela agenda regressiva, de gravíssimo ataque aos direitos dos trabalhadores e da população de maneira geral.
Dentre essas medidas se destacam a PEC que congela investimentos por 20 anos, a reforma da CLT e a reforma da previdência, na qual Michel Temer (PMDB) e seus aliados (PSDB, DEM, PPS, PSB, PSD, PP, PR, PTB) querem arrancar dilheiro do pvo para entregar aos especuladores do mercado financeiro.
E para desespero da direita há mais duas notícias devastadoras que devem apressar o fim real do “governo” Temer, na medida em que simbolicamente ele já acabou.
A primeira é a pesquisa de avaliação de Temer, na qual fica evidente que além dele só ter o apoio de 10% da população, mais de 63% querem ele fora e que se convoque uma nova eleição direta, ou seja, que se devolva ao povo a prerrogativa de escolher quem lhe governará, tal qual nós propusemos como solução do impasse que culminou com o golpe contra a presidenta Dilma.
A segunda é outra pesquisa, que acaba de ser divulgada, relativa a intenção de votos para as eleições presidenciais de 2018. A situação da direita é crítica. Além de não terem um candidato competitivo, constatam que Aécio desaba, e que Lula é o 1º em todos os cenários, secundado por Marina Silva.
Mas vai piorar. Diante do escândalo de corrupção que atinge toda a equipe de Temer, ele procura acelerar as reformas antipovo para tentar acalmar o “deus mercado” – o governo que de fato manda – procurando ganhar alguma sobrevida, sem levar em conta que o povo não está disposto a pagar essa fatura passivamente.
Especialmente quando se sabe que há alternativa. A previsão de déficit da previdência para 2017 é de R$ 181 bilhões, segundo a peça orçamentária do próprio governo, e na qual estão reservados R$ 870 bilhões para pagar juros aos seus amigos banqueiros.
Eis porque a tendência é de agravamento da crise. A direita tentará, como sempre, fazer com que o povo mais simples pague a conta de sua farra com os banqueiros.
Quem não deseja o caos que está anunciado deve se empenhar por Diretas já!
Eron Bezerra – Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.
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