MC Carol 100% feminista (crédito: Raquel Abe)
“O preconceito com funk é uma ignorância. É porque o funk veio da comunidade. Até um tempo atrás, MCs e DJs eram parados pela polícia, perdiam equipamento, eram vistos como bandidos”, disse MC Carol à BBC Brasil (leia a íntegra aqui) que destaca vida e obra da artista.
A funkeira de Niterói (RJ) conta a sua vida e como superou os preconceitos que sofreu desde criança por ser negra, pobre e gorda. “Sofri um pouquinho na escola. Mas nada de chorar, de ficar deprimida… eu saía na porrada, apanhava e batia. Fui criada assim”.
Além disso, ela já entrou em salas de aula com a sua música “Não foi Cabral”, onde afirma que o Brasil não foi descoberto pelo navegador português, porque já haviam milhões de indígenas nestas bandas.
Ouça “Não foi Cabral”
Carolina de Oliveira Lourenço tem 23 anos e abraçou o funk como MC Carol e já tem inúmeros sucessos em sua carreira. Tanto que somente em sua página de Facebook conta com cerca de 300.000 seguidores.
Ela diz em entrevista ao jornal “O Dia” que não faz música do nada. “Quando não tem algo interessante na minha vida, foco na dos outros”. Seus primeiros sucessos surgiram dessa forma. “Minha vó ta maluca”, sobre a sua avó, “Jorginho me empresta a 12”, dedicada a uma amiga e sobre uma vizinha que queimava o lixo perto de sua casa, “Minha vizinha é louca”.
Mas a MC Carol se destacou na mídia por sua atitude altiva e por enfrentar o preconceito e se tornar símbolo de beleza numa sociedade onde o padrão predominante é o estilo boneca Barbie, loira e magra.
A funkeira despontou para valer com a bela canção “100% feminista”, em parceria com a funkeira paranaense Carol Conka.
Os versos iniciais dizem: “Presenciei tudo isso dentro da minha família/Mulher com olho roxo, espancada todo dia/Eu tinha uns cinco anos, mas já entendia/Que mulher apanha se não fizer comida/Mulher oprimida, sem voz, obediente/Quando eu crescer, eu vou ser diferente”.
“100% feminista”
Sobre isso ela fala à BBC que ainda criança via a tia apanhar do marido e ficou sabendo que com sua avó não era diferente, então, “para mim, em um casamento, alguém sempre tinha que bater e alguém sempre tinha que apanhar”. Por isso, diz ela, reagia sempre na porrada, inclusive contra namorados que se excediam.
Essa canção teve mais de meio milhão de visualizações no YouTube em apenas uma semana e pôs MC Carol no cenário artístico brasileiro. Virou garota-propaganda da Avon e se viu transformada em modelo de beleza na TV.
Ela diz que ficou feliz com isso porque ao ligar a TV só vê “loira, magra de cabelo liso… Cara, que autoestima eu vou ter de sair na rua? Quando eu entro em uma loja e não acho roupa do meu tamanho, um short do meu tamanho… isso é um preconceito indireto. Quer mostrar para mim que eu sou anormal.”
Uma de suas postagens mais curtidas no Facebook traz uma foto em que uma mulher acima do peso pratica ioga (foto abaixo). O texto diz: “Quero apenas provar que ser gorda não é sinal de depressão, limitação ou qualquer outra coisa negativa!”
Ela defende o gênero musical que adotou ao afirmar que “o funk representa trabalho. O tráfico abraça as pessoas na favela. E digo por mim mesma: o que seria de mim hoje? Eu poderia estar até morta se não cantasse. E o funk é a nossa voz, a gente pode botar a boca no trombone, estar na televisão, jornais, redes sociais… falar o que acontece lá, na comunidade”.
Agora, MC Carol desponta nas redes sociais com a canção “Delação premiada”, onde denuncia as mazelas do capitalismo e o preconceito forjado no país desde que era colônia de Portugal, muito para justificar a escravidão dos seres humanos trazidos da África.
“Três dias de tortura numa sala cheia de rato/É assim que eles tratam o bandido favelado/Bandido rico e poderoso tem cela separada/Tratamento VIP e delação premiada”, diz parte da letra da música.
“Delação premiada”
A artista ressalta seu orgulho por ser “uma mulher forte”’, mais diz que “não sabia o que era, mas eu tinha uma parada dentro de mim do tipo: não abaixe a cabeça para ninguém. Nunca aceitei meu lugar de mulher no mundo”. O lugar a que ela se refere é o da submissão.
São Paulo Fashion Week
Ela fala também da novidade dos desfiles da São Paulo Fashion Week deste ano por conta da grife Lab, de Emicida e seu irmão Fióti, ambos rappers. “Hoje é o dia da favela invadir a São Paulo Fashion Week”, grita Emicida no início do desfile de sua marca.
A grife dos rappers levou à tradicional mostra de moda, uma gama de modelos que fogem do padrão europeu de beleza. A maioria é de negros e também há dois modelos gordos.
Os cantores Ellen Oléria e Seu Jorge desfilaram para o amigo Emicida (foto abaixo).
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy