17º Congresso da Federação Sindical Mundial: a música e a dança como expressão da luta e da unidade dos trabalhadores
Amandla” (Poder) “Ngawethu” (Para nós)
A heroica terra de Nelson Mandela, a África do Sul, foi o local da realização do 17º Congresso da Federação Sindical Mundial (FSM). Cerca de 1.500 delegados e convidados, representando 111 países dos cinco continentes, reuniram-se no Centro Internacional de Convenções Inkosi Albert Luthuli, da bela cidade de Durban.
Esse congresso, além de sua importância no avanço da unidade do movimento sindical classista internacional, proporcionou aos participantes a oportunidade de conhecer in locus um povo que é um dos símbolos da luta anticolonialista e antissegregacionista. E vivenciar momentos de grande emoção e alegria, contagiados pela forma alegre com que os sindicalistas africanos expressam sua unidade e participação nas lutas.
O congresso foi organizado pela Cosatu, maior central sul-africana e com forte tradição de luta contra a opressão racial, o apartheid, e pelos direitos dos trabalhadores. A delegação dessa central participou do congresso em grande número, com camisetas vermelhas, intercalando os discursos com belas canções e danças inspiradas nas lutas contra a apartheid.
As canções e as danças ressaltavam a unidade do grupo. Homens, mulheres e algumas crianças participavam da dança e, com um sorriso muito aberto, batiam palmas ou formavam círculos. Usavam da repetição, em diferentes vozes, num constante crescimento de música e de movimento, criando um efeito muito bonito. Sua emoção e alegria contagiavam a todos.
Para nós do Brasil, a emoção era maior pela oportunidade de contato com nossa ancestralidade e nossos históricos laços culturais. Lembrei-me de um belo artigo de Leonardo Boff, “Por que no meio da dor os negros dançam cantam e riem”, publicado na Carta Capital e escrito logo após a morte de Nelson Mandela, em cujo velório o povo cantava e dançava alegremente.
Nesse artigo, ele citava a explicação dada por um jovem motorista de táxi da África do Sul ao ser indagado sobre isso pelo jornalista Washington Novaes: “Com o sofrimento, nós aprendemos que a nossa alegria não pode depender de nada fora de nós. Ela tem de ser só nossa, estar dentro de nós”. E Boff complementa no seu artigo: “Nossa população afrodescendente nos dá a mesma amostra de alegria que nenhum capitalismo e consumismo pode oferecer”.
Chamava também a atenção o “grito de guerra” com que iniciavam e terminavam os discChamava também a atenção o “grito de guerra” com que iniciavam e terminavam os discursos: Amandla, uma palavra Xosa e Zulu, um clamor popular dos dias da resistência contra a apartheid que significa “Poder”. Completando eles respondiam “Awethu” ou “Ngawethu!” , que quer dizer “Para nós”. Depois que o apartheid acabou, esses termos são usado pelos movimentos populares como uma forma de indicar a necessidade de retirar o poder da minoria elitista.
Voltamos para o Brasil impactados com essa rica experiência. E quando assistimos, no Brasil, a postura desumana de uma elite retrógrada que destrói de forma avassaladora todas as conquistas dos últimos anos, mais do que nunca nos identificamos com essa manifestação dos trabalhadores sul-africanos: “Amandla, ngawethu”, a luta continua.
Maria Clotilde Lemos Petta é coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee e diretora do Sinpro Campinas e Região, da CTB e da CEA.
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