#EuEmpregadaDoméstica: a senzala moderna é no quartinho destinado às trabalhadoras

Viraliza na internet a página do Facebook Eu Empregada Doméstica, que em poucas horas atingiu quase 20 mil curtidas. A rapper Preta Rara (Joyce Fernandes), criadora da página, conta que a ideia surgiu quando ela decidiu contar um episódio de sua vida como trabalhadora doméstica (veja abaixo).

eu empregada domestica

De acordo com ela, em pouco tempo o seu relato teve centenas de compartilhamentos. Preta Rara diz que após a sua postagem deixou de ser “só a minha história, várias mulheres começaram a me falar situações parecidas”.

Acompanhe os relatos na página Eu Empregada Doméstica. Preta Rara também indica a utilização da hashtag #EuEmpregadaDoméstica.

Os relatos encontrados na página são assustadores. M.D. conta uma história acontecida com sua prima, cuja patroa reclamava da Lei das Domésticas, aprovada há dois anos. “Ela (a patroa) disse assim ‘…meu amor, não é por nada, mas não é justo uma empregada doméstica ter os mesmos direitos que uma secretária, é questão de justiça elas tiveram pelo menos alguma preparação para trabalhar’. Minha prima chorou ao me contar, é um absurdo achar que elas estão abaixo de qualquer coisa… muito triste, e ela continua trabalhando lá”.

A dirigente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Lucileide Mafra, presidenta da Federação das Trabalhadoras Domésticas da Região Amazônica, conta que essas histórias ainda são comuns nessa categoria.

“Na verdade, para as trabalhadoras domésticas brasileiras, a senzala só mudou de lugar. Hoje ela está nos quartinhos 2mx2m, seja nos apartamentos ou nas mansões dos patrões, que maltratam as trabalhadoras de diversas maneiras”.

lucileide mafra

Lucileide Mafra diz que as trabalhadoras domésticas continuam sendo maltratadas e desrespeitadas

Para Mafra, essa iniciativa da rapper paulista é muito interessante, porque “as pessoas passam a ter conhecimento da dura realidade enfrentada pelas trabalhadoras domésticas e quem sabe isso ajude a acabar com essa prática abusiva”.

Um rapaz, narra fatos acontecidos com sua mãe, uma ex-trabalhadora doméstica. “Ela começou a trabalhar aos 8 anos de idade, cuidando de uma outra criança”, conta. “Um belo dia sua patroa fez uma festa, comprou vários doces. No final da festa, ela chamou minha mãe e disse: ‘leva o resto dos doces e aperitivos pros seus filhos, eles vão gostar, nunca comeram isso, né?’”.

Acostumada com acontecimentos desse tipo, Mafra não se espanta e diz que com o afastamento da presidenta Dilma, “parece que as coisas ruins estão voltando com força”, reclama. “Em um condomínio de luxo no Pará, as trabalhadoras não podiam usar a entrada dos patrões”.

Mafra lembra de um outro caso, que chamou muito a atenção da diretoria da federação que ela preside. “Uma promotora da Justiça demitiu e descontou R$ 100 de uma trabalhadora, só porque ela comeu um pedaço de pudim. E ainda tentou nos pressionar para não ser processada”.

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Para a sindicalista paraense, a sociedade brasileira é hipócrita. “As pessoas são valorizadas pelo que elas têm ou aparentam ser, sem atentar para os direitos e para a qualidade de vida das pessoas. Uns se julgam melhores que os outros e nesse contexto, as trabalhadoras domésticas são extremamente discriminadas”.

Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy

Veja vídeo com Preta Rara sobre a página que ela criou

Preta Rara canta sua música “Audácia”

 

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