Após ser impedida de participar da reunião com chanceleres do Uruguai e Paraguai e vice-chanceleres do Brasil e da Argentina, realizada em Montevidéu no dia 11 de julho, a ministra das Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodríguez, criticou a posição do Brasil e Paraguai, que querem evitar que a presidência rotativa do Mercosul seja dada à Venezuela conforme as regras estabelecidas pelo bloco.
Em entrevista para a emissora local Televén, no último domingo (17), a ministra venezuelana afirmou que este “é o desrespeito imediato e absoluto das normas que regulam todos nossos órgãos”.
O ministro interino das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, desde que assumiu o cargo, vem atacando a Venezuela. Em entrevista para o jornal O Globo ele afirmou: “Imaginar a Venezuela dirigindo o Mercosul às vezes dá arrepios em face dos desafios que o próprio Mercosul tem pela frente”, declarou. Segundo ele, “A Venezuela tem questões mais profundas. Realmente, é um país em que não há democracia plena. Quando você tem presos políticos, você não tem um regime democrático funcionando a contento”, disse.
Dias antes da reunião com os integrantes do bloco, Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reuniram-se com o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, e o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, em Montevidéu, para tentar convencê-los a quebrar as regras do Mercosul e impedir que a Venezuela assuma a presidência Pro Tempore, mas o governo daquele país afirmou que “cumpre acordos e tratados internacionais”.
Em nota, a Federação Sindical Mundial (FSM) Cone Sul repudia veementemente a atitude dos ministros. “Denunciamos publicamente o objetivo destas ações que atentam contra o processo de integração regional de novo tipo, em curso há mais de uma década, violam os acordos expressos nos tratados constitutivos do Mercosul e ferem a soberania das nações”, diz o documento.
O Mercosul adiará até agosto a transferência da presidência Pro Tempore, atualmente nas mãos do Uruguai.
Leia abaixo a íntegra do comunicado da FSM Cone Sul:
A Coordenação da Federação Sindical Mundial para o Cone Sul, representando o conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras filiados, expressa o seu total repúdio às ações dos Ministros das Relações Exteriores do Brasil e do Paraguai que, na última segunda-feira 11 de julho, durante a reunião de Ministros do Mercosul, impediram a presença dos seus homólogos da Venezuela e da Bolívia, bem como bloquearam o traspasso da Presidência Pro Tempore (PPT) do bloco à Venezuela.
Denunciamos publicamente o objetivo destas ações que atentam contra o processo de integração regional de novo tipo, em curso há mais de uma década, violam os acordos expressos nos tratados constitutivos do Mercosul e ferem a soberania das nações.
Por trás destas ações, lideradas por ministros que apoiaram golpes brandos nos seus países, se esconde a clara intenção de subordinar nossas economias aos interesses imperialistas e às velhas receitas neoliberais: a ressuscitada Alca no formato de Aliança do Pacífico.
Rechaçamos publicamente as manobras do ministro golpista do Brasil que, conjuntamente com o chanceler paraguaio, legitima as expressões da direita em nossa região, viola o direito de exercer a presidência do bloco para o país que é membro do Mercosul desde 2012 e exerceu a presidência de julho de 2013 a julho de 2014.
A Federação Sindical Mundial, presente nos 5 continentes e representando 96 milhões de trabalhadores de 126 países, demanda o respeito às nações irmãs da Venezuela e da Bolívia e o imediato cumprimento da normativa de rotação do PPT à Venezuela e o ingresso do Estado Plurinacional da Bolívia ao bloco.
São Paulo, 21 de julho de 2016
Divanilton Pereira
Coordenação da FSM para o Cone Sul