Parece estar virando lugar comum no mundo das grifes luxuosas o flagrante de utilização de trabalho escravo em oficinas de costuras. A bola da vez é a Brooksfield Donna, pertencente ao grupo Via Veneto.
“Não dá mais para aceitar que essas grandes empresas continuem com essa prática abusiva”, diz Carlos Rogério Nunes, secretário de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A empresa foi flagrada por auditores do Ministério do Trabalho e Previdência Social explorando mão de obra análoga à escravidão e trabalho infantil em uma oficina em Aricanduva, na zona leste da capital paulista, nesta segunda-feira (20).
Cinco bolivianos foram encontrados na oficina de costura, inclusive uma menina de 14 anos. Os auditores disseram à ONG Repórter Brasil que a adolescente não poderia trabalhar nessa atividade porque “a costura é uma das atividades econômicas onde é proibida a contratação de menores de 18 anos”.
Além disso, a legislação brasileira permite que jovens de 14 a 16 anos trabalhem apenas como aprendizes e em meio período. Dentro da oficina, os fiscais encontraram outras duas crianças. Elas moravam com as mães, que passavam quase todo o tempo sobre as máquinas de costura, informam os auditores.
Os trabalhadores encontrados continuam em uma situação de extrema fragilidade devido à postura da Brooksfield diante dos problemas. “A empresa demonstra uma falta de vontade de resolver uma situação básica, de dignidade básica do trabalhador”, diz Lívia Ferreira, auditora fiscal que coordenou a operação.
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Todos foram encontrados “sem carteira assinada ou férias, eles trabalhavam e dormiam com suas famílias em ambientes com cheiro forte, onde os locais em que ficavam os vasos sanitários não tinham porta e camas eram separadas de máquinas de costura por placas de madeira e plástico”, informa a reportagem da BBC Brasil.
Em nota, o departamento de marketing da Via Veneto afirmou que “a empresa não terceiriza a prestação de serviços e seus fornecedores são empresas certificadas. A empresa cumpre regularmente todas as normas do ordenamento jurídico que lhe são aplicáveis”.
Mas relatório de inspeção do ministério mostra que a marca “é inteiramente responsável pela situação encontrada na oficina”, considerada “a real empregadora” e, portanto, totalmente responsável “pelos ilícitos trabalhistas constatados”.
Rogério defende que a sociedade exerça o seu poder fiscalizador e promova boicote às empresas que explorem trabalho escravo ou infantil. “Já que a mídia, por interesses comerciais, não denuncia, nós temos que fazer a nossa parte”.
“O movimento sindical deve tomar a frente de campanhas de boicote a todas as marcas que forem flagradas condicionando seres humanos à escravidão”, reforça. “Nenhum ser humano merece ser submetido a formas degradantes de trabalho, muito menos crianças e adolescentes, que estão em formação e precisam de nosso apoio”.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy, com agências