Não foi apenas movido pelo sentimento de vingança que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha deflagrou o processo de impeachment. Agora está ficando claro que o verdadeiro objetivo foi escapar da Justiça, ou seja, obstruir as investigações a respeito de suas atividades pretéritas.
Se o seu plano der certo ele se torna vice-presidente da República e, como tal, vai matar dois coelhos com uma só cajadada: o processo de sua cassação no conselho de ética vai ser deletado porque ele não será mais deputado e sim vice-presidente, assim como as acusações que pesam contra ele na Lava Jato, pois, como vice-presidente, só pode ser processado por malfeitos ocorridos durante o seu mandato. O passado não o condenará mais.
O mesmo raciocínio se aplica a Michel Temer. Se conseguir assumir a presidência da República caem por terra as delações feitas contra ele na República de Curitiba, assim como morre o impeachment que o ministro Marco Aurélio Mello praticamente obrigou Cunha a abrir contra ele. Temer vai se livrar dos dois problemas, pois, se tudo der certo, assumirá um novo mandato, e só poderá ser processado pelo que fizer no decorrer dele, não respondendo mais pelo que fez no passado.
Diante da perplexidade dos que defendem a legalidade e a retomada do crescimento econômico e do cinismo dos que mentem, inventam, camuflam e enganam os incautos, os dois próceres do PMDB comandam um movimento em que a obstrução da Justiça e o desvio de finalidade estão na cara, mas a sua caravana desfila com a conivência da imprensa, o silêncio da Justiça e a histeria das ruas.
Eles serão os principais beneficiados se o STF continuar calado diante dos fatos, mas não os únicos. É evidente que a isca com que atraem novos adeptos é a esperança de salvá-los também. Não por outro motivo o PP, principal implicado na corrupção sob investigação na Lava Jato, mais implicado que o PT e o PMDB anunciou sua adesão aos dois perdidos numa noite suja.
É espantoso que “as ruas”, esse movimento difuso, misterioso, obscuro cuja principal bandeira é a “luta contra a corrupção” não se deem conta de que na verdade estão protegendo os corruptos, estão servindo de biombo para inocentar os que já têm os pés na lama e os futuros enlameados. O que Temer e Cunha comandam não é apenas um golpe contra a democracia e contra os beneficiários de programas sociais; é um golpe contra a Justiça, é um salvo conduto para continuarem arrastando o país para o buraco da impunidade, da ilegalidade, da corrupção, dos privilégios.
Alex Solnik é jornalista
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