O Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) realizou na última sexta-feira e sábado (27 e 28) mais uma reunião de seu conselho deliberativo. O evento trouxe entidades e comitês que compõem o seu conselho para em São Paulo (SP), na sede do Centro Barão de Itararé. A pauta dos reunidos foi um debate conjuntural na sexta-feira, seguido no sábado pela construção de estratégias e um calendário de atividades e mobilização para levar adiante a luta pela efetivação do direito à comunicação no Brasil.
Entre os convidados especiais da reunião estiveram a comunicadora social Nilza Iraci, diretora do Geledés Instituto da Mulher Negra; o advogado Paulo Mariante, presidente do Conselho de Direitos Humanos de Campinas-SP e coordenador de direitos humanos do grupo Identidade; Bruna Provazi, militante feminista e organizadora da Marcha Mundial das Mulheres; e Camila Lanes, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Todos eles falaram sobre experiências recentes em que a discussão da comunicação se misturou com seus respectivos movimentos.
Para Iraci, o momento traz um novo significado para a luta pela liberdade de expressão, pois essa se confunde com a liberdade da manifestação do ódio. “A mídia conservadora age livremente, desrespeitando a concessão de um espaço público e a Constituição Federal. Ao mesmo tempo, assistimos a uma reação rápida e implacável das pessoas contra essas manifestações de ódio. Tudo indica que há uma consciente crescente da população contra o ódio e a discriminação”, refletiu. Para a militante, os agressores só fazem essas coisas porque acreditam que a Internet é uma terra sem lei, mas seus ataques são apenas uma extensão das violências cotidianas que afligem as parcelas de população chamadas de “minorias”. “A luta pela liberdade de expressão deve ser acompanhada da luta pelo que é humano e o que é diverso. Na origem de todos os fascismos sempre esteve a indisposição das pessoas em defender minorias”, concluiu.
Mariante falou sobre sua experiência de enfrentamento diante do apresentador João Kleber, que conduz na RedeTV! um programa de auditório repleto de atitudes discriminatórias. Recentemente, o advogado conseguiu na Justiça o bloqueio completo do sinal da emissora, depois de um caso flagrante de homofobia perpertrado pelo programa. Depois de 25 horas fora do ar, a RedeTV! fechou um acordo com o Ministério Público para substituir o programa condenado por uma série de especiais sobre as lutas sociais, produzidos e protagonizados pelos próprios movimentos. “A luta pelos direitos não deve ser pulverizada. Com a ajuda do Intervozes, tiramos a RedeTV! do ar. O acordo permitia o quadro de uma hora para entidades do movimento LGBT, mas foi deles a decisão de dividir o horário com outros movimentos”, explicou. “Usamos esses 30 dias para mostrar que é possível fazer uma TV diferente”, continuou.
A militante da Marcha Mundial das Mulheres, Bruna Provazi, focou sua fala nas possibilidades que a Internet deu ao movimento feminista. “Foi um novo fôlego que encontramos. O conservadorismo também encontrou uma nova forma de espalhar ignorância. Ao mesmo tempo em que avançamos, a contraofensiva chega forte”, disse. Ela explicou que a mídia de massas tenta acompanhar o que acontece na rede, mas ainda trata a mulher apenas como publico, não como voz ativa. Um caso de exceção importante a este comportamento foi o movimento #AgoraÉQueSãoElas, em que colunistas de diversos veículos cederam seus espaços para vozes femininas de distintas origens. No total, mais de 100 jornalistas participaram dessa campanha.
Por último, Camila Lanes falou sobre as ocupações das escolas e sua relação conturbada com a imprensa, que se posta fielmente ao lado do governo do estado. A estudante contou que este ato de resistência à “reestruturação” das escolas públicas estaduais nasceu da Internet. Logo, foi apelidada de “primavera secundarista” pelos estudantes, que já estão em mais de 230 escolas. Por causa da atitude condenatória da grande imprensa, as ocupações decidiram permitir apenas à mídia alternativa o acesso às escolas, devido ao papel de defesa que empenharam. Conforme o movimento ganha corpo, os próprios estudantes passam a se articular para fazer as coberturas das ocupações, contando suas próprias histórias – os que são interessados em comunicação, pelo menos. Ela agradeceu os presentes, em nome dos estudantes, pelo apoio que têm recebido no processo de exposição da luta.
O FNDC divulgará em breve o calendário decidido no sábado.
Portal CTB