Há dois meses, fazendo história nas ruas, os estudantes paulistas têm hoje uma assembleia na capital paulista para tomarem decisões sobre os rumos do movimento. “As ocupações não param de crescer porque estamos defendendo um direito nosso, o de estudar em boas escolas”, diz Ângela Meyer, presidenta da União Paulista dos Estudantes (Upes).
A assembleia ocorre nesta terça-feira (24), na rua Vergueiro, 2.485, na Vila Mariana (próximo a estação Ana Rosa do metrô), onde fica a sede das entidades estudantis na capital paulista. “Essa assembleia é importante neste momento para continuarmos fortes e unidos para derrubar de uma vez essa ‘reorganização do Alckmin”, afirma.
De acordo com os organizadores dos protestos contra a “reorganização escolar”, pretendida pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), que propõe criação de ciclos únicos e fechamento de ao menos 92 escolas, até o momento já estão ocupadas 161 unidades em todo o estado.
Além das ocupações, os estudantes promovem agora um boicote ao Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). A estudante Thayná Yasmin, de Campo Limpo Paulista, no interior do estado, manda o seu recado pela página no Facebook “Não Fechem Minha Escola”.
“Pais, quanto vale a educação dos seus filhos? E nós jovens, quanto vale a nossa educação? Galera, isso não tem preço! Não é uma chantagem barata (sobre a caixinha de chocolate Bis dada pelo governo a quem fizer a prova) que nos fará realizar esse exame! Talvez a direção pense que nós estamos à venda, mas vamos mostrar a eles que não estamos, e que nos importamos com o que está acontecendo”, defende.
A professora mineira Celina Arêas, secretária de Formação e Cultura da CTB, realça a lição que os estudantes paulistas “estão dando para os governantes, para os pais e educadores, enfim para toda a sociedade”.
Ela afirma que as pessoas sempre dizem que “os jovens não estão nem aí para a escola, para os estudos, mas eles estão deixando muito claro que gostam da escola, respeitam a coisa pública, querem estudar, mas querem educação de qualidade”.
A mãe de uma aluna da escola Conselheiro Crispiano, de Guarulhos, na Grande São Paulo, faz um desabafo e diz que se “queremos que a nova geração tenha conhecimento e consciência crítica é importante apoiar movimentos como esse”.
“Não aceitamos mais que as coisas sejam impostas como o governo Alckmin sempre fez. E em nossa assembleia fortaleceremos ainda mais nosso movimento que já tem o apoio da maioria da população”, afirma Ângela.
Nota zero para a polícia de São Paulo
Apesar da determinação do Tribunal da Justiça do Estado de São Paulo impedindo a reintegração de posse, pretendida pelo governo Alckmin, ocorrem denúncias de vários atos violentos cometidos pela Polícia Militar.
A presidenta da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes, denunciou ontem (23) a ação de policiais na ocupação da escola Orville Derby, na zona leste da capital. “Os estudantes estão lá dentro em cárcere privado, a PM (desinformada) fez uma tentativa de reintegração (mesmo não podendo mediante a ordem do desembargador). Estudantes estão sendo ameaçados e os professores estão revoltados com a truculência da polícia”.
Já Ângela analisa a atitude autoritária dos policias dizendo que “eles não percebem, mas os filhos da maioria deles, estudam em escola pública e eles reprimem estudantes que defendem as escolas”.
Ela conta ainda que os advogados que dão assistência jurídica ao movimento foram acionados. “Os cadeados foram trocados e agora só é ‘autorizada’ a saída de estudantes. O advogado está a caminho e já deixamos claro, ninguém sai! Isso e uma ocupação, legítima e pacífica”.
Advogados Ativistas divulgam um relato na página do “Não Fechem Minha Escola” sobre as detenções absurdas de jovens da Escola Estadual Antonio Firmino, também na zona leste. “O devido registro contra os policiais militares deverá ser realizado por constrangimento ilegal de menores, abuso de autoridade, violação dos direitos políticos dos jovens, bem como e fundamentado, pela falsa comunicação de crime pelo representante da escola”.
Mídia careta
“A imprensa sómcomeçou a noticiar nosso movimento, depois que ele ganhou tanta força que as notícias começaram a sair até no exterior. O silêncio e a criminalização dos movimentos sociais por essa mídia, caíram por terra com a nossa ação”, diz Camila.
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Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB