Taís Araújo como a personagem Luciana, no filme O Maior Amor do Mundo (2006), de Cacá Diegues, que tem o racismo com tema central
Em pleno Mês da Consciência Negra, há 15 dias da Marcha das Mulheres Negras e perto do início dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, internautas destilam ódio contra a atriz Taís Araújo.
“Cabelo de esfregão”, “já volta pra senzala?”, “Entrou na Globo pelas cotas” e “negra escrota”, foram alguns dos adjetivos publicados. A atriz diz que encaminhou todos os endereços dos agressores para a polícia.
“Quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie. Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado”, defende ela.
A resposta foi imediata. Já no domingo (1º), a campanha #somostodosTaísAraújo esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter. No momento em que a atriz filma “O Topo da Montanha”, sobre o líder negro norte-americano Martin Luther King.
“É o sentimento de impunidade que reforça essas atitudes. Já está na hora de se tomar uma atitude contundente para frear esses ataques à pessoa humana. Poucos dias atrás comentários pedófilos sobre uma menina de 12 anos ocorreram e nada foi feito”, diz Mônica Custódio, secretária de Promoção da Igualdade Racial da CTB.
De acordo com a sindicalista, “quando um jornalista global vem à tevê e culpa o sistema de cotas pelo racismo, provoca incitamento à violência contra negros e mais forte ainda contra as mulheres”.
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Para ela, “as pessoas acreditam que a internet é uma terra de ninguém, mas temos o Código Civil da Internet que determina punições a crimes cibernéticos”, diz.
Além disso, “já passou da hora de combatermos todas as formas de discriminação levando conhecimento para as pessoas. O Brasil é muito maior que os racistas”.
Mônica ressalta que a primeira Marcha das Mulheres Negras nacional, que ocorrerá em Brasília no dia 18 ganha relevo com esses “ataques vis à uma atriz somente por ela ser mulher, negra e ter sucesso”.
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“Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito”, diz Taís.
“Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! ”, complementa.
Já Mônica lembra que a Lei Caó, de 1989, torna o racismo um crime inafiançável, mas “as punições são dificultadas pelo próprio racismo incrustado na sociedade. “Estão matando os jovens negros e ninguém faz nada”, ataca.
“Em pleno século 21, o Brasil ainda vive sobre a égide do racismo, sexismo, misoginia e LGTBfobia”, diz. “Até quando a mídia burguesa continuará incitando o ódio, a violência e o preconceito?”. Questiona.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB