O ansioso blogueiro participou de um evento, em São Paulo, na companhia de brilhante vice-presidente de um dos três maiores bancos brasileiros.
O que se reproduz é uma parte do diálogo.
– A Dilma cai logo, ou demora um pouco?, ele perguntou.
– Ela não cai.
– Não é o que todo mundo acha.
– Todo mundo, quem?
– Ué, na mídia.
– Mas, mídia não derruba presidente.
– Como não? Não derrubou o…
– Derrubou o Lula?
– Mas, a Dilma não é o Lula…
– Ninguém é igual ao Lula.
– Mas, o que estão dizendo…
– Quem?
– As pessoas com que todo mundo fala…
– Quem…
– Não, mas todo mundo diz que ela cai ou com as pedaladas ou com o dinheiro sujo, no Tribunal Superior Eleitoral…
– O TSE já aprovou as contas da Dilma uma vez…
– Mas, vai julgar mais…
– E as contas serão aprovadas, de novo…
– Como você sabe?
– Porque sim! O dinheiro que foi para a campanha da Dilma e Temer é o mesmo que foi para o do Aécio… E pro Aécio foi mais dinheiro ainda! Se é sujo, é sujo duas vezes…
– Mas, o Aécio perdeu…
– Que bom!
– Não, mas, tudo bem. E as pedaladas?
– Primeiro, elas tem que ser condenadas no Tribunal das Contas…
– Qual?
– Tribunal das Contas do Ministro Nardes…
– Exato. Ela vai perder no TCU.
– Vamos supor que o Tribunal acompanhe o relator, o ministro Nardes. Isso não significa nada. O TCU é um órgão de apoio ao Congresso. Não decide nada. Não condena. Nem absolve. Tem mandar o resultado para a Congresso e o Congresso aprovar a decisão. O Congresso pode até nem analisar a decisão do TCU. Ou só analisar quando o neto da Dilma for presidente…
– Mas, é claro que o Congresso aprova. Depois de um voto contrário no TCU, com a autoridade moral do TCU.
– Autoridade moral de quem? Do Ministro Nardes?
– Mas, ela não tem maioria no Congresso…
– Ela está aprovando o ajuste todo. Mantendo os vetos e não tem maioria?
– Mas, é porque o PMDB está com ela.
– O PMDB estará com o Governo. Qualquer Governo. Sempre.
– O PMDB pode trair…
– Se trair será na ante-véspera do fim do mandato para aderir ao futuro presidente. Quem disse que ela não tem votos para impedir o impeachment?
– Ora, a gente sabe.
– A gente quem?
– As pessoas com que a gente conversa.
– As pessoas com que a gente conversa votam na Câmara? E no Senado? E no Supremo?
– Não, mas a gente sabe…
– Você acha que um Presidente da República será derrubado por um processo que corre na Comissão tal da Câmara, vai para outra, tem um parecer, leva-se ao plenário e na calada da noite uma frágil maioria derruba um presidente? Como se fosse uma moção para dar o nome de “Fernando Henrique Cardoso” a uma ponte em Roraima, que ele não construiu? Ele não construiu ponte em lugar nenhum…
– Sim, tem que seguir um rito legislativo normal…
– Que ninguém vai perceber que está correndo um processo de impeachment?
– Por que não?
– Porque, meu caro, para derrubar um presidente da República tem que ter povo e líder.
– Povo tem.
– Qual?
– O que foi para as ruas…
– Mas, não tinha um negro, um único pardo. Que povo é esse? O sueco?
– Mas, não importa, vai ter, ou pode ter.
– E quem é o líder que vai botar povo na rua para derrubar a Dilma?
– São muitos.
– Então, eu vou dizer o nome dos lideres do impeachment e você vai me dizer se ele põe gente na rua: Bolsonaro.
– Não.
– Fernando Henrique.
– Não.
– Aécio.
– Não.
– Cerra.
– Também não.
– Alckmin.
– Ninguém conhece fora de São Paulo.
– Gilmar.
– Ninguém sabe quem é.
– Ministro Nardes.
– Muito menos.
– Ataulfo Merval de Paiva.
– Quem?
– Está vendo? E você acha que o Stedile vai ficar quieto?
– Não.
– Que o Vagner Freitas vai ficar quieto?
– Quem?
– O presidente nacional da CUT.
– Que o Lula vai ficar quieto?
– Ah, mas esse o Moro vai pegar ele.
– É mais fácil o Lula pegar o Moro!
– Quer dizer então que ela fica.
– Fica. E sabe por que?
– Não.
– Porque a Oposição é um bando de frouxos!
– É… Eu não conheci o Carlos Lacerda, mas dizem…
– Por falar nisso: o teu banco pretende fechar as portas se não houver o impeachment?
– Tá louco!
Pano rápido.
O evento ia começar!
Paulo Henrique Amorim é jornalista e blogueiro.
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