São mais de cinco séculos
Que a terra é monopólio em nossa nação
Do “descobrimento” até nossos dias
Uma bandeira do povo que não aparece solução
Quem perde é o país
Sem resolver essa questão.
O problema da Reforma Agrária no Brasil
É uma vergonha social
Na Europa ela foi realizada
Logo após a Revolução Industrial
Nos Estados Unidos da América
Após sua independência nacional.
No mundo chamado “moderno”
No mundo chamado “civilizado”
Nem um país classificado desenvolvido
Ergueu-se sem uma Reforma Agrária ter realizado
Falar de Reforma Agrária atualmente
É coisa de país muito atrasado.
A formação sócio-econômica de nosso país
É cheia de deformação, atrasada e elitista.
Foram quase quatro séculos de escravidão colonial
A nossa “independência” (tardia) veio acompanhada com o ideário monarquista
E a história da República brasileira
Manteve a grande propriedade da terra intocável, sempre a serviço do latifúndio monopolista.
Rondônia formou-se:
Em ciclos econômicos, que provocaram grandes ciclos migratórios
1°ciclo da borracha no final do século XIX para o inicio do século XX
E o 2° ciclo, no período da 2° guerra provocou forte ocupação desse território.
No final dos anos 50 o ciclo da cassiterita, anos 80 cíclo do ouro
Nos anos 70 e 80: ciclo da agricultura, para nosso Estado esse ciclo foi decisório.
Durante o ciclo da agricultura
Rondônia desenvolveu vários projetos de colonização
E nesse contexto, a BR 364
Virou a espinha dorsal dessa região
Milhares de família expulsas do Sul e Sudeste
Foram atraídas para vir ocupar esse torrão.
Em 1960, Rondônia tinha em torno de 70 mil habitantes
Em 1980, era de 491 mil sua população
O progresso é latente
E com ele aparece o latifúndio e os gananciosos da especulação
Invadiram terras indígenas, assassinaram em massa Amazônidas
A grilagem tornou-se regra e o assassinato de posseiros eram freqüentes no meio desse sertão.
Grandes latifúndios se formaram
Com a conivência do Estado
Milhares de famílias que pra cá vinheram
Tiveram seus sonhos frustrados
Só com a luta decidida dos camponeses
Foi que tiveram seus sonhos de assentado realizados.
Os projetos de colonização
Não foi capaz de atender as demandas da ocupação
Com isso criou-se um contigente de excluídos de sem terras
Por culpa da incompetência do Estado Brasileiro na solução.
Os ricos afortunados donos do capital
Com a complacência de governos, apoderaram-se das melhores terras desse rincão.
É nesse contexto de luta pela terra
Que aconteceu o massacre na fazenda Santa Elina
O massacre de Corumbiara
O Estado foi o maior protagonista desta chacina
Com apoio do latifúndio
Provocaram: a humilhação, a tortura e a carnificina.
Era madrugada de 09 de agosto de 1995,
Quando o assentamento da fazenda Santa Elina foi invadido pela força da repressão
Uma verdadeira operação de guerra
Coordenada por policiais e jagunços encapuzados de arma na mão
Abriram fogo contra homens, mulheres, idosos e crianças
09 posseiros assassinados,02 soldados e uma vergonha para nação.
Entre os mortos estava a criança Vanessa
Com apenas seis anos foi assassinada
Com um tiro nas costas
Tombava no meio do fogo cruzado naquela sinistra madrugada
Não teve razão de nascer no Brasil
E na flor da idade ter sua vida ceifada.
Após o batismo de sangue
355 pessoas foram presas e torturadas por quase 24 horas
O acampamento foi destruído e varias pessoas ficaram mutiladas
As vitimas dessa chacina tiveram suas vidas desgraçadas.
Até hoje tem gente desaparecida, sobreviventes foram desprezados,
Dois sem terras punidos, em nome do Estado da pátria amada.
Os mortos e sobreviventes
Pelo Estado foram ludibriados
Assim como foram os soldados da borracha, Garimpeiros,
Barrageiros, professores nos anos 90, todos enganados.
Esses excluidos sociais
Carregam nas suas costas esse histórico fardo.
A luta pela terra no Brasil
Nas páginas da história está registrado
Vem dos levantes indígenas, dos quilombos, da farroupilha…
Da cabanagem, do conselheiro, do contestado…
Do cangaço, das ligas camponesas, da guerrilha do Araguaia…
Do MST, MCC, da liga campesina… Movimentos herdeiros da luta do passado.
Os massacres de Eldorado dos Carajás e Corumbiara
Teve a complacência do Estado a serviço do latifúndio covarde
Onde camponeses foram cruelmente assassinados
Seus verdadeiros responsáveis absolvidos, o judiciário legitimou a crueldade.
Numa demonstração clara pra o mundo
Que o Brasil é o paraíso da impunidade.
Corumbiara não se cala!
20 anos se passaram.
09 combates ,
Na luta ardente tombaram,
Naquele 09 de agosto
Vocês não morreram, sementes germinaram.
Corumbiara – O silêncio dos vencidos
20 anos se passaram
Erguendo a bandeira da reforma Agrária
Seu sonho libertário,
Seus herdeiros continuaram.
Dedico esse singelo cordel: Aos familiares dos mortos e desaparecidos na chacina de Corumbiara. Aos sobreviventes, que além das humilhações que passaram não foram indenizadas pelas perdas e danos que tiveram. Dedico a Cicero e Claudemir condenados injustamente pelo Estado Brasileiro como responsáveis pelo conflito. Em especial, a família de meu camarada Adelino Ramos, militante do PCdoB, fundador do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), e Secretario de Assuntos Agrários da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB/RO, assassinado em 28 de maio de 2011, no distrito de Vista Alegre do Abunã, Região do Município de Porto Velho, por um pistoleiro a serviço do latifúndio e degradadores ambientais (crime até hoje não esclarecido), e a todos lutadores pela reforma agrária e pela paz no campo em nosso Pais.
Francisco Batista Pantera é Professor, Jornalista, Poeta militante comunista e presidente da CTB/RO