Trabalhadoras rurais do Paraná marcam presença na Marcha das Margaridas

Cerca de 450 trabalhadoras do campo do Paraná se somarão às 70 mil brasileiras que juntas marcharão, no dia 12 de agosto, até a Esplanada dos Ministérios em busca de mais respeito e autonomia. A caminhada faz parte da 5ª Marcha das Margaridas, que acontece a cada quatro anos em Brasília, coordenada pela CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e com a participação de todas as Federações filiadas, entre elas a Fetep (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná).

No Paraná, a Fetaep mobilizou toda a sua base sindical incentivando a participação feminina. Sete ônibus sairão do interior do Estado rumo à capital federal cheio de disposição e vontade de conquistar mais benefícios às mulheres trabalhadoras rurais. Este é o caso da trabalhadora rural Eliane Brunhera, de 36 anos, moradora do Assentamento Contestado, situado no município da Lapa (Região Metropolitana de Curitiba).

“Sou movida pela fé e esperança. Sonho com a igualdade entre homens e mulheres. A mulher, especialmente a da roça, tem que estar onde ela quer estar e não onde a sociedade quer que ela esteja”, desabafa a trabalhadora rural que já sentiu na pele a discriminação de gênero quando, há três anos, tirou sua habitação para dirigir ônibus e caminhões. Assim que surgiu uma oportunidade de trabalho em sua comunidade, Eliane não perdeu tempo. Enviou seu currículo e participou do processo seletivo. Fez vários testes e após eliminar os concorrentes – em sua maioria homens – foi aprovada. Porém, o que seria motivo de muita alegria e orgulho não passou de tristeza. “Após cinco dias de trabalho fui demitida porque a empresa não suportou a pressão. Muitas pessoas da minha comunidade, inclusive as mulheres, passaram a ligar no meu trabalho questionando a minha contratação e até mesmo ameaçaram a empresa”, relatou. Infelizmente, continua ela, a empresa não teve como suportar a pressão e acabou demitindo-a.

Para ela, a mulher do campo é muito mais oprimida do que a da cidade. “Uma mulher carpindo uma roça é algo bem aceito pela comunidade, porém um homem lavando roupa é inadmissível para esta sociedade”, conclui a trabalhadora rural. Chega de não podermos fazer determinadas coisas pelo simples fato de sermos mulheres.

Chegada em Brasília – As mulheres começarão a chegar em Brasília na manhã do dia 11 de agosto, quando acontecerá, a partir das 14h, uma conferência com o tema “Margaridas seguem em Marcha por Desenvolvimento Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”. Às 19h do dia 11 de agosto será realizada a Abertura Oficial da 5ª Marcha das Margaridas, com a participação de vários representantes de movimentos e organizações de mulheres do Brasil e do mundo, e também de representantes do Governo Federal.

Paraná contra agrotóxicos e transgenia

Todas as participantes deixarão seus afazeres do dia a dia para se somarem às demais, mostrando à sociedade brasileira que o Paraná sabe o que quer e luta por isso. Entre as suas bandeiras de luta, além do combate à violência e à discriminação, o Sul vai defender a criação de zonas livres de agrotóxico e transgênicos, assegurando a manutenção da obrigatoriedade da rotulação dos produtos transgênicos de forma nítida, com compromisso de vetar qualquer alteração legislativa aprovado pelo Congresso Nacional que suprima a obrigação de rotulação.

Além disso, também quer desestimular o uso de agrotóxicos mediante a realização de campanhas na mídia, programas específicos do MDA e INCRA, sobre o tema, divulgando as pesquisas que mostram a relação direta entre o consumo de alimentos produzidos com os agrotóxicos e o aumento/aparecimento de muitas doenças, inclusive do grande percentual de mulheres na Região Sul com câncer de mama, bem como de outros tipos de cânceres.

Atualmente a região Sul é a segunda maior consumidora de agrotóxicos do Brasil e na sua esteira devastou florestas e assoreou os rios. De 2000 a 2009, registrou-se 679 óbitos por agrotóxicos em trabalhadores, sendo 109 em mulheres. O tomate e batatas, apesar de ocuparem áreas pouco extensas, destacam-se pelo uso intensivo de agrotóxicos por unidadede área cultivada. Essas culturas apresentam-se como fontes potenciais de contaminação pelo uso de agrotóxicos em grandes áreas.

Os transgênicos também estão entrando cada vez mais na região e com pouca fiscalização no país. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), na safra 2012/2013 nada menos que 83% da produção de soja foram de grãos geneticamente modificados. A soja transgênica tomou conta das lavouras gaúchas. Conforme o MAPA, cerca de 98% dos plantios transgênicos no Brasil estão no Rio Grande do Sul.

Programação:

11 de agosto- terça-feira

8h às 12h – Chegada das delegações e credenciamento
14h – Conferência, Painéis Temáticos e Espaços Interativos
Painéis Temáticos:
• Enfrentamento à Violência contra as Mulheres
• Mulheres na luta por autonomia econômica, trabalho e renda
• Mulheres em defesa da sociobiodiversidade e acesso aos bens comuns
• Mulheres Rurais Guardiãs da Cultura Camponesa
19h – Abertura oficial da 5ª Marcha das Margaridas
21h – Noite Cultural e Esportiva

12 de agosto – Quarta-feira

7h às 12h – Concentração e Marcha pela Esplanada dos Ministérios
15h – Resposta do Governo Federal à Pauta da 5ª Marcha das Margaridas

Por Renata Souza – Fetaep

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